Imagine-se sozinho no espaço, mergulhando entre Saturno e seus anéis. Que barulho você acha que existe lá? Embora nenhum humano tenha vivido essa experiência ainda (e, teoricamente, mesmo que vivesse, não escutaria nada sem a ajuda de um dispositivo), desvendar os sons do universo é exatamente o que a sonda Cassini está tentando fazer neste momento. O áudio que ela gravou durante o primeiro mergulho de sua travessia entre o gigante gasoso e os anéis foi divulgado pela Nasa na última segunda-feira – e ele traduz em sons os impulsos elétricos emitidos quando as pequenas partículas presentes ali são vaporizadas.
Como o som propriamente dito não se propaga no espaço, é necessário algum dispositivo para converter as vibrações eletromagnéticas em algo que possamos, efetivamente, escutar. Os ‘barulhos’ foram captados em 26 de abril de 2017, quando Cassini iniciou seus mergulhos entre o planeta e os anéis, pelo Radio and Plasma Wave Science (RPWS, na sigla em inglês), um instrumento instalado na sonda. Depois que as partículas (do tamanho de um grão de poeira) atingem as antenas da nave, elas se transformam em pequenas nuvens de plasma ou gás carregadas eletricamente. Essas explosões que acontecem quando as partículas são vaporizadas emitem sinais elétricos sutis, mas que podem ser captados pelo RPWS e transformados em sons audíveis ou imagens, resultando no vídeo abaixo.
Enquanto Cassini realizava seu mergulho pelo espaço entre Saturno e seus anéis, a sonda era protegida por uma antena que funcionava como um tipo de escudo. O RPWS, no entanto, ficou de fora da proteção para captar melhor os sinais elétricos. O que os cientistas perceberam após escutarem os áudios é que, em comparação com a quantidade de explosões que Cassini registrava antes de adentrar a região, o espaço entre o planeta e os anéis possuía poucas partículas (apesar de identificáveis no áudio), fazendo jus ao apelido de “grande vazio”, dado pelo diretor da missão da Nasa, Earl Maize.
Com a experiência, os cientistas também puderam considerar a quantidade de partículas existentes e ponderar se, para concluir a travessia, seria necessário que a sonda continuasse utilizando o escudo de proteção para evitar danos causados por colisões com esses pequenos grãos congelados.