Um estudo da Universidade de Reading, no Reino Unido, apontou que mais de um terço das placas de gelo antárticas correm risco de colapsar no oceano caso a temperatura global chegue a 4º Celsius acima do que era na época pré-industrial. As novas previsões sobre os efeitos do aquecimento global foram publicadas nesta quinta-feira, 8, na revista científica Geophysical Research Letters.
Os pesquisadores apontaram que 34% da área de todas as placas de gelo da Antártica podem ser desestabilizadas caso a temperatura do globo aumente em 4ºC. Neste cenário, cerca de 67% do território da Península Antártica estaria em risco de colapso, o que traria graves consequências não só para o meio ambiente, mas para a agricultura e a saúde humana.
“Placas de gelo são amortecedores importantes para prevenir que as geleiras no continente flutuem livremente para o oceano e contribuam para o aumento do nível da água. Quando elas colapsam, é como uma rolha gigante sendo retirada de uma garrafa, permitindo que quantidades inimagináveis de água vindas das geleiras sejam derramadas no mar”, explicou Ella Gilbert, principal autora do estudo e cientista do clima no departamento de Meteorologia da Universidade de Reading.
A pesquisa trouxe, portanto, novas evidências sobre os riscos causados pelo aquecimento global. As placas de gelo agem como uma espécie de barragem, diminuindo o ritmo do derretimento do gelo, e portanto do aumento das águas nos oceanos. A cada verão, o gelo da superfície das placas derrete e é derramado em pequenas fendas na neve, onde congela-se novamente. No entanto, quando há muito derretimento, essa água forma piscinas na superfície do gelo ou escorre pelas fissuras, em um processo pode tornar as rachaduras maiores e mais profundas, causando o rompimento total da placa.
O novo estudo usou modelos de alta-resolução para prever os impactos do aumento do derretimento das geleiras e afirmou que limitar a temperatura a mais 2°C ao invés de 4°C diminuiria pela metade a área em risco e potencialmente evitaria um aumento significativo dos mares.
O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU), lançado em fevereiro, concluiu que até 2030 os países precisam reduzir drasticamente a sua dependência em combustíveis fósseis e proteger o planeta de alcançar o limite de aumento de 1,5°C em relação à temperatura global pré-industrial.
Para isso, a rede global de emissões de dióxido de carbono precisaria cair em 45% em relação aos níveis registrados em 2010 até 2030 e chegar ao “patamar 0” para manter o aquecimento em cerca de 1,5°C. Já no Acordo de Paris, aprovado em dezembro de 2015, 197 países concordaram com a meta de manter as temperaturas globais bem abaixo dos 2°C.
Há previsões, no entanto, que apontam o risco de o planeta estar 3,2ºC mais quente até 2100, o que poderia levar o planeta a ter mais de seis meses de verão. Com isso, uma série de plantas e animais não sobreviveriam ao novo clima, prejudicando a agricultura e a preservação de ecossistemas.
“As descobertas destacam a importância de limitar o aumento da temperatura global como previsto no Acordo de Paris se quisermos evitar as piores consequências das mudanças climáticas, incluindo o aumento dos níveis dos oceanos”, afirmou Ella Gilbert, líder do último estudo, à rede americana CNN.
Os pesquisadores identificaram quatro placas de gelo que estariam ameaçadas por um clima mais quente: Larsen C, Shackleton, Pine Island e Wilinks, que são mais vulneráveis devido a sua geografia, e ao derramamento previsto para essas áreas.