Já se desconfiava. Mais do que isso: havia indícios. Contudo, foi apenas em julho passado que cientistas italianos anunciaram a detecção de 10 bilhões de litros de água em Marte, espalhados em um lençol freático de 20 quilômetros, escondido sob 1,5 quilômetro de gelo e poeira no polo sul do planeta vermelho. Trata-se de um verdadeiro lago subterrâneo — o equivalente marciano de certas bacias localizadas na Antártica e no Alasca. A descoberta, divulgada pela revista científica americana Science, foi feita com base na análise de imagens captadas pelo radar eletromagnético Marsis, que pertence à Nasa. A comprovação da existência de água líquida em Marte reforça a hipótese de que algum dia possa ter havido seres vivos por lá — ou ainda haja. Na Terra, formações como as encontradas no planeta vizinho são sempre repletas de vida.
Em 2015, o robô Opportunity, também da Nasa, tinha detectado sinais de vapor de água em Marte, onde aterrissara em 2004. Foi um passo importantíssimo. Mas não era suficiente. Faltava a confirmação da presença de água líquida — algo que o radar Marsis conseguiu. Ele opera como se fosse uma máquina de raios X. Um satélite, que orbita o planeta, envia em direção ao solo frequências de rádio que, ao serem ou não refletidas, indicam aos sensores a natureza daquilo em que as ondas esbarraram no caminho. Na Terra, essa mesma técnica é usada para localizar água subterrânea, petróleo e carvão.
Em análises realizadas entre 2012 e 2015, o Marsis captou 29 amostras marcianas. Na etapa seguinte do processo, os cientistas pegaram exemplos similares de lagos gelados subterrâneos encontrados por aqui e iniciaram os trabalhos de comparação com o material marciano. Desse modo chegaram à conclusão de que as imagens dos aparelhos do Marsis revelavam a presença de um grande corpo hídrico em Marte. Com isso, cresce a motivação para o envio de astronautas ao planeta vermelho, para — quem sabe — constituírem uma colônia abastecida por suas águas subterrâneas. Está nos planos da Nasa enviar a Marte uma nave tripulada nos anos 2030.
Publicado em VEJA de 26 de dezembro de 2018, edição nº 2614