O ex-secretário Nacional de Vigilância em Saúde Wanderson Oliveira citou “pedras no caminho” ao explicar sua decisão em deixar o Ministério da Saúde após 17 meses no cargo. Ele enviou uma carta de despedida aos servidores da pasta.
“Estávamos à frente pelo menos duas semanas em relação aos demais países da Europa e Américas, ampliando a capacidade laboratorial, leitos, EPIs e Respiradores. No entanto, como dizia o poeta e conterrâneo Carlos Drummond de Andrade, ‘no meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho’”, escreveu em carta endereçada aos colegas de ministério na noite desta terça-feira, 26.
Oliveira esclareceu que decidiu deixar o cargo após “tensa entrevista coletiva” no dia 14 de abril. Foi nesta data que o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta faltou ao encontro diário com os jornalistas para comparecer a uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro. No dia anterior, Mandetta tinha concedido entrevista ao programa Fantástico em que exigia unidade de discurso do governo em relação ao isolamento social no país. Bolsonaro sempre se posicionou de forma contrária à quarenta e, na época, chegou a dizer que faltava humildade a Mandetta. Dias depois, Mandetta foi demitido.
Na carta, Oliveira também se referiu ao ex-ministro Nelson Teich, que pediu demissão pouco mais de um mês no cargo. “O ministro Nelson Teich (…), lamentavelmente, não teve tempo de mostrar seu trabalho, pois novamente ‘tinha uma pedra no meio do caminho’. Nesse curto espaço de tempo, apesar de não me conhecer direito, após duas semanas, efetivamente me convidou para permanecer. Creio que faríamos um ótimo trabalho, mas aí entra o princípio da impermanência“, escreveu o ex-secretário.
Sem citar o novo protocolo sobre uso da cloroquina, alterado pelo ministro da Saúde interino, o general Eduardo Pazuello, após a saída de Teich, Oliveira escreveu que “sobre a resposta à Pandemia de Covid-19, seria muito bom conhecer o contexto de cada decisão que foi tomada, pois nem tudo que se vê é o que parece, nem tudo que parece é o que realmente é. Há muita história em cada decisão que deve ser contextualizada ao seu tempo”.
Oliveira também deixou um recado a Pazuello: “Apesar de não ser da saúde, mas um exímio e reconhecido estrategista, rogo para que valorize o espaço tripartite em diálogo franco com o Conass, Conasems e Conselho Nacional de Saúde (CNS)”, escreveu ao citar as entidades que representam os secretários estaduais e municipais de saúde.