Os brasileiros ganharam uma nova ferramenta pela conquista ao respeito do uso do nome social, que é a forma como uma pessoa reivindica ser chamada, sempre que o registro oficial não revelar a sua identidade de gênero. Mais do que uma preferência, trata-se de um direto assegurado pelo Decreto nº 8.727/2016, concedido a travestis e transexuais no âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. Como essa lei muitas vezes é ignorada nas mais diversas situações do mundo corporativo, a startup Mais Labs criou o site Respeita Meu Nome. Trata-se da primeira ferramenta desenvolvida dentro da Universidade de São Paulo (USP), que usa a diversidade como uma solução de inovação e tecnologia.
Na plataforma, o usuário pode abrir uma reclamação sobre alguma situação, onde teve seu direito desrespeitado. A partir daí, começa o trabalho de mediação. Um e-mail é envido à empresa em questão, pedindo que o problema do reclamante seja resolvido o mais rápido possível. Caso a solicitação não seja atendida em trintas dias, um auxílio jurídico é disponibilizado para a vítima.
O conceito inicial da plataforma surgiu a partir de uma pesquisa realizada por Maria Miranda e Othon Arruda, do curso de Marketing da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, com o objetivo de investigar como as empresas se comportam em relação ao nome social. Eles analisaram 409 tweets relacionados a casos em que marcas não respeitaram o nome social de pessoas trans, relatados na rede social X, antigo Twitter, no primeiro semestre de 2023. Também foram identificados os desdobramentos desses tweets e as interações entre marcas e usuários por meio das menções diretas e indiretas.
Questão cada vez mais discutida dentro das universidades, o direito ao nome social é uma reivindicação que começa muito antes. Na última década, houve o aumento de 300% no uso dele dentro das escolas em pelo menos 12 estados brasileiros. O estado de São Paulo lidera o ranking com 7 mil registros em documentos escolares no período. Ao contrário de outras regiões, a rede paulista de ensino regulamenta o direito do uso do nome social no Cadastro de Alunos, pelo decreto número 55.588, implementado em 2010, pelo então governador José Serra (PSDB). Um exemplo que deveria ser seguido pelos demais executivos, que além de combater o constrangimento desde o início da vida escolar, ainda dá maior transparência para a questão.