Uma revista no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus (AM), onde 56 presos foram mortos após uma rebelião em janeiro, provocou um novo conflito na unidade. De acordo com o secretário de Segurança Pública do Amazonas, Sérgio Fontes, os detentos do Compaj tentaram reagir durante a revista, mas foram contidos pelos militares que chegaram a usar balas de borracha. Mais de 30 ficaram feridos.
“Os presos, apesar de estar ali uma grande quantidade de policiais, demonstraram a intenção de reagir, de não obedecer às ordens. Inclusive, nas filmagens, eles mandam os outros levantarem, numa nítida ação de enfrentamento às forças de segurança. Foi necessária a utilização de força proporcional, alguns se machucaram, mas ninguém morreu”, afirmou o secretário.
Fontes ressaltou que será investigado tanto o comportamento dos detentos quanto dos agentes presentes. “Isso vai ser investigado, quem causou e quem desobedeceu vai ser responsabilizado e, eventualmente, se houve algum excesso, também vai haver responsabilização”, disse. A revista apreendeu dois rádios, 27 aparelhos celulares, 45 barras de ferro, 46 facas, onze facões e 21 estoques, facas feitas de forma artesanal.
Batizada de Operação Chaw’pã II – “limpeza” na língua indígena do povo hupda do Alto Rio Negro –, a revista foi feita por órgãos de segurança do Estado e cerca de 580 militares das Forças Armadas. O Exército também cedeu equipamentos de alta tecnologia para a inspeção, realizada nos quatro pavilhões do Compaj, que abrigam 1031 internos.
Desafio
Para o secretário de Segurança, impedir que as armas voltem a entrar no presídio ainda é um desafio para o governo. “Nós estamos anunciando aqui que nós estamos pegando (os objetos). A população pode ficar tranquila que nós estamos pegando. Mas como entra? Se eu soubesse como entra, não entrava mais porque a gente teria evitado. Certamente é a corrupção, certamente as famílias dos presos”, afirmou.
Sobre a família dos detentos, ele ainda disse acreditar que a falta de revista pessoal é aproveitada para fazer esse tráfico. “Nós estamos num dilema diário. Não podemos fazer revista pessoal porque é intimidatória e a pessoa se aproveita disso pra colocar para dentro o que deve e o que não deve”, concluiu o secretário.
Para ele, a falta de equipamentos impede que a revista de entrada nas penitenciárias seja reforçada. “Nó precisamos ainda de todos os equipamentos necessários para fazer com que a tecnologia nos permita, cumprindo as normas nacionais e internacionais e de direitos humanos, evitar que entrem. Enquanto não temos esses equipamentos, nós fazemos buscas constantes, sozinhos e com o apoio do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, como agora”, acrescentou o secretário.
“Nós empregamos uma parte com detecção com animais de faro para explosivos e para drogas e também detectores eletrônicos para identificação de diversos materiais. A gente recebeu uma determinação da Presidência da República para que fossem feitos esforços conjuntos com os órgãos de segurança no sentido de realizar essas vistorias, as detecções desses itens, a identificação, localização e coleta desses itens para posterior investigação da Polícia Civil”, explicou o tenente-coronel Sérgio Oliveira, do Comando Militar da Amazônia (CMA).
Rebelião
Em 1º de janeiro deste ano, uma rebelião na unidade penitenciária resultou na fuga de 225 internos e na morte de 56. Até o momento, 113 foram recapturados e 112 continuam foragidos. Passados mais de dois meses do massacre, o secretário de Segurança Pública do Amazonas, Sérgio Fontes, diz que o sistema prisional em Manaus está controlado.
“Nós consideramos que o sistema prisional, não é que ele esteja pacificado, mas ele está em constante observação e sob controle”, afirmou. “Se alguém duvida da eficácia desse tipo de ação, é só olhar essa lista de itens apreendidos. Todos esses materiais foram encontrados com aquela mesma população carcerária que fez a rebelião e cometeu todos aqueles assassinatos no início de janeiro, o que demonstra que as operações devem continuar focadas no sistema prisional”, concluiu o responsável pela Segurança Pública no Amazonas.
Cadeia Pública
A Operação Chaw’pã I foi realizada no dia 31 de janeiro na Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, que fica no centro de Manaus, também com a participação de militares das Forças Armadas. Na ocasião foram apreendidos 23 celulares, 42 objetos perfurantes e cortantes, como estoque e facas, um simulacro de arma de fogo, substâncias entorpecentes, entre outros objetos proibidos.
O presídio foi reativado para receber mais de 280 detentos do Compaj que se sentiam ameaçados após a rebelião no local. Também houve um confronto entre internos na Cadeia Pública no dia 8 de janeiro, matando mais quatro pessoas. Atualmente, o presídio abriga 200 detentos. O secretário de Estado de Administração Penitenciária, tenente-coronel Cleitmam Rabelo, reafirmou que o local será desativado definitivamente até 15 de maio, conforme acordo com a Justiça do Amazonas e o Ministério Público do Estado.
“Nós já estamos trabalhando para isso fazendo uma triagem, um filtro bem responsável para transferir os presos sem que a gente precise entrar em convulsão com outras cadeias. Por isso, nós já estamos fazendo movimentações já a partir desse mês março de presos para outras unidades que possam recebê-los. Assim, quando chegar maio, teremos uma população menor e poderemos transferi-los para o presídio que está em construção”, explicou o secretário Rabelo.
(Com Agência Brasil)