Pela segunda vez em pouco mais de um mês, policiais militares e dependentes químicos entraram em confronto na área conhecida como Cracolândia, na região central de São Paulo. Na tarde desta quinta-feira, usuários de drogas fizeram barricadas e atearam fogo para impedir o avanço da PM, que usou balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral. Ao menos cinco PMs e um fotógrafo ficaram feridos.
Segundo a Polícia Militar, a confusão começou após a prisão de dois suspeitos na Alameda Barão de Piracicaba. Um grupo de pessoas teria partido para cima dos agentes, que buscaram apoio do Corpo de Bombeiros, que tem uma unidade na região. Ainda de acordo com a PM, dependentes químicos jogaram pedras em direção aos bombeiros.
O coronel Alexandre Gasparian, comandante do policiamento na área, afirmou que um grupo de usuários tentou invadir a unidade dos Bombeiros. A Força Tática e o Grupamento Aéreo da PM foram enviados à região.
Os policiais feridos foram socorridos e levados ao Hospital Militar. O fotógrafo Dario de Oliveira, baleado na perna, foi socorrido por moradores e comerciantes e levado ao hospital pelos bombeiros. Segundo o relato de jornalistas, cinegrafistas e fotógrafos que estavam no local, o tiro partiu do chamado fluxo (concentração de usuários na rua). Não se sabe se a bala era de fogo ou borracha.
A Guarda-Civil Metropolitana, localizada na Alameda Dino Bueno, montou uma linha de bloqueio para evitar o avanço dos dependentes químicos sobre os agentes. Outro grupo de usuários de drogas tentou ocupar a Rua Helvétia, mas foi impedido por um bloqueio da PM. No meio da tarde, ainda havia um foco de tensão entre PMs e usuários de drogas na esquina da Helvétia com a Barão de Piracicaba.
Saques e presos
No dia 17 de fevereiro, um confronto entre usuários de drogas e PMs resultou em ao menos dez pessoas presas, lojas saqueadas e um policial e uma dependente química feridos. A confusão começou praticamente no mesmo local do confronto desta quinta-feira. A base da PM foi alvo de pedradas e pedaços de pau.
Com a dispersão dos cerca de 300 usuários de drogas envolvidos na confusão, começou uma onda de saques a lojas da região. Oito pessoas acabaram presas em flagrante por furto qualificado e dano. Outros dois foram detidos por receptação ao serem flagrados com sapatos furtados.
Há duas semanas, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que iria acabar “em breve” com a Cracolândia. Com a implementação do programa Redenção, que, segundo ele, deve ocorrer até junho, o tucano disse que os dependentes químicos não ficarão mais na rua. A remoção, afirma, será feita de forma “humanitária” e terá caráter contínuo, para evitar o retorno dos usuários de droga às ruas. “Não vão ficar na rua. Eles receberão o tratamento clínico necessário e o atendimento social que devem ter”, afirmou o prefeito. Para o tucano, a presença de dependentes químicos nas ruas do centro é “uma imagem ruim para as pessoas, para a cidade e para o Brasil”.
(Com Estadão Conteúdo)