A cena não podia ser mais desoladora: mais de 100 botos, alguns filhotes, foram encontrados mortos na lagoa de Tefé, município amazonense, até o fim dessa sexta-feira, 29. Símbolo da região, esses golfinhos encalharam nos bancos de areia devido à seca. Outros mamíferos aquáticos também se tornaram vítimas da baixa do rio, caso dos peixes-boi, que também morrem por falta de oxigênio em verdadeiras poças de água que se formam ao longo do leito. A Amazônia concentra 20% de toda a água doce do planeta, mesmo assim a população local está sem água na torneira, devido ao longo período sem chuvas. Ao todo vinte municípios estão em situação emergencial, entre eles, a capital de Manaus.
Trata-se da maior estiagem já enfrentada pelo estado amazonense dos últimos 13 anos. Na última terça-feira 26, o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, informou que será criada uma força-tarefa com participação de diversos ministérios e órgãos federais para auxiliar a população a enfrentar os transtornos causados pela falta de chuvas. A estiagem deve afetar pelo menos meio milhão de pessoas até dezembro, segundo estimativas do governo estadual.
Além da falta de água, os focos de queimadas se multiplicam. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe), em setembro, foram registrados 6.597 focos na região. Nos últimos dois dias, foram notificados 34 focos de queimadas em Autazes, dez nos municípios de Careiro e Careiro da Várzea, oito em Novo Airão e seis em Iranduba. Dos 62 municípios amazonenses, apenas dois não foram afetados, Presidente Figueiredo e Apuí. Cinco estão em estado de atenção e 38, em alerta.
“O suporte do governo federal é muito importante”, diz o governador do estado Wilson Miranda Lima. “Além dos aspectos da ajuda humanitária, o desmatamento e as queimadas, temos que nos preocupar também com a atividade econômica, que fica comprometida pela dificuldade da passagem de balsas e grandes embarcações pelo Rio Madeira.”
O período de seca está muito acima do normal da estação, segundo o Inpe, devido ao fenômeno natural do El Niño, que acontece a cada cinco anos em média, elevando a temperatura do Oceano Pacífico, na altura do Peru. Isso muda completamente as correntes, dificultando a formação de nuvens na região amazônica, que passa a pior estiagem dos últimos 13 anos. Além do El Niño, a mineração ilegal e o desmatamento desenfreado dos últimos quatro anos, também são fatores que ajudaram muito no agravamento do clima.