O presidente Jair Bolsonaro sempre relutou em mexer num tema que considera um vespeiro eleitoral: o salário de funcionários públicos. Por trás dessa discussão, segundo ele, há um cálculo político: 40 milhões de famílias afetadas, 40 milhões de votos a menos. Essa lógica de quem está de olho em uma reeleição contraria a cartilha liberal do ministro Paulo Guedes. Por isso, a decisão do Palácio do Planalto de vetar ou manter a possibilidade de reajustar a remuneração dos servidores pelos próximos dois anos, prevista no pacote de socorro aos estados e municípios, é considerada crucial para a equipe econômica.
Em uma conversa recente com seus secretários, Guedes disse: “Se o presidente não vetar será um sinal muito importante”. O ministro relembrou que quando topou participar da campanha de Bolsonaro em 2018, ele estabeleceu algumas hipóteses de trabalho. Dentre elas, estavam dois pontos essenciais: o apoio irrestrito do presidente à agenda econômica liberal e a disposição do Congresso em aprovar reformas estruturantes. Sem isso, seria inviável implementar um plano de retomada do crescimento do país.
Na semana passada, a Câmara aprovou a flexibilização do congelamento da remuneração de servidores públicos, um tema costurado entre o ministro e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Durante a votação, o deputado Major Victor Hugo (PSL-GO) ligou para o presidente e explicou que o governo sofreria uma derrota se não votasse contra Guedes. Para evitar um desgaste político, Bolsonaro orientou o parlamentar a seguir adiante. Essa movimentação foi vista como uma facada no chefe da equipe econômica.
Com isso, uma das hipóteses de trabalho de Guedes — a disposição do Congresso em apoiar as pautas econômicas do governo — ficou abalada. Agora resta outro pilar considerado fundamental para o ministro: o apoio do presidente. É nisso que o chefe da equipe econômica aposta todas as suas fichas nesta semana.
No domingo 10, Bolsonaro sinalizou que está afinado com o seu Posto Ipiranga: “Como o Paulo Guedes me disse, a questão dos ajustes na economia, amanhã a gente sanciona o projeto com veto e está resolvido. E tem tudo para dar certo, apesar dos fechamentos por aí”.
A decisão do presidente, que já se mostrou resistente à reforma administrativa, definirá se o homem que decide a economia no Brasil é de fato Paulo Guedes.