O “jeitinho” brasileiro, versão 2022
O cientista politico Alberto Carlos Almeida prepara nova versão do livro "A Cabeça do Brasileiro", que ajudou, há 20 anos, a traçar o que pensa a população
O que pensa o brasileiro em 2022? A nova versão do livro de sucesso do cientista político Alberto Carlos Almeida, baseado em pesquisa feita há vinte anos, sairá em março do ano que vem com respostas atualizadas para as questões que balizaram a consulta, e deve ajudar a entender o que mudou no modo do cidadão brasileiro enxergar a si mesmo e seu entorno. Entre as perguntas do extenso questionário, que será feito presencialmente em municípios sorteados pelos organizadores da pesquisa, está a que vai voltar a medir o chamado “jeitinho brasileiro”, que, na avaliação de Alberto Carlos Almeida, mede a “tolerância ao não cumprimento das regras. É o que chamo de sala de espera da corrupção”, diz o autor da primeira e da nova versão da “A Cabeça do Brasileiro”.
Para medir o que pensamos sobre o famoso “jeitinho” estão sendo elaboraas perguntas sobre situações específicas como o que acham de furar fila ou se parece correto o elevador de um prédio ter entrada social e de serviço.
Também serão perguntadas questões ligadas à economia, como o quão a sociedade permanece (ou não) estatizante. Os episódios conjunturais do país, que atravessou ao longo de duas décadas, impeachment, manifestações, a Operação Lava-Jato e duas eleições que escancaram a polarização, não são, segundo Almeida, preponderantes em uma eventual mudança de modo de pensar dos entrevistados. Ele afirma que o principal fator é geracional e educacional. “São valores muito arraigados”.
Na versão de 2002, os jovens viam a sexualidade de forma mais liberal. Uma das curiosidades da pesquisa é identificar se esse jovem, que hoje está na meia idade, segue com os mesmos valores. “Duas gerações se foram, importante saber como isso se traduziu na maneira de ver o mundo do brasileiro. Um ponto a ressaltar é, há vinte anos, a consulta já demonstrava que o brasileiro médio é conservador. “Mas o Brasil já foi muito mais conservador. Não se aceitava o divórcio, falar sobre a pílula. O fato é que não existe um pensamento conservador único. Existem modulações dele. A pesquisa deve indicar em que isso mudou”, diz o cientista político.