O economista Delfim Netto morreu nesta semana, aos 96 anos de idade. O ex-ministro da Fazenda foi um dos mais poderosos políticos do país, responsável pela chamado ‘milagre econômico’ durante o regime militar e foi conselheiro dos governos de Lula, Dilma e Michel Temer.
Após a morte do ex-ministro, Lula fez um mea culpa. “Durante 30 anos eu fiz críticas ao Delfim Netto. Na minha campanha em 2006, pedi desculpas publicamente porque ele foi um dos maiores defensores do que fizemos em políticas de desenvolvimento e inclusão social que implementei nos meus dois primeiros mandatos”, disse o presidente.
Lula realmente fazia duras críticas a Delfim. Um relatório confidencial do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) discorre sobre um encontro do 1º aniversário da morte da líder sem-terra Margarida Alves, em 1984, em Alagoa Grande, na Paraíba, no qual o então presidente nacional do PT fez um discurso e classificou o ex-ministro e outras autoridades da época como “ladrões”. Mas nem sempre foi assim.
Os documentos do regime militar também mostram um outro lado da relação de Lula com o ex-ministro. Em novembro de 1979, o SNI difundiu um relatório sobre um encontro sigiloso entre os dois. “A iniciativa foi de Delfim Netto e tinha o objetivo de estabelecer um pacto entre o Governo e a classe trabalhadora”, diz o relatório. “O pacto consistiria em uma trégua de dois anos sem greves, em troca de algumas vantagens e benefícios sociais aos trabalhadores”.
A proposta teria sido apresentada por Delfim. Na reunião, Lula teria perguntado se entre as vantagens prometidas estaria incluída a criação da Central Única dos Trabalhadores. Segundo o relatório, Delfim respondeu que sim, “pedindo um certo tempo para encaminhamento do fato”. A CUT foi fundada quatro anos depois.
Ainda de acordo com o relato, Delfim prometeu reajustes salariais, a criação do seguro-desemprego, o financiamento de moradias e alteração do FGTS. O documento, porém, alertava que os “entendimentos” entre governo e as lideranças sindicais provocavam irritação entre os operários, uma vez que Delfim não tinha a “confiança dos trabalhadores”.
Ao mesmo tempo, o relatório também alertou que o pacto estava sendo fechado num momento em que o movimento sindical se encontrava “desgastado e acuado”. Isso permitiria que lideranças como Lula retornassem “revitalizados a comandar a agitação no seio da classe trabalhadora”.