Embora se diga um “soldado solitário”, o policial militar da reserva Fabrício Queiroz aparece em todo o seu material de campanha para uma vaga na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro posando com um aliado de peso. No caso, o próprio presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), amigão de Queiroz há três décadas e de quem o ex-PM virou, desde que veio à tona o esquema de rachadinhas no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, persona non grata – pelo menos oficialmente. Para turbinar sua estreia nas urnas, Queiroz mandou fazer 10 000 santinhos, 5 000 praguinhas (bottons colantes) e 100 adesivos de carros com a sua imagem sorridente ao lado do presidente. “Tenho inúmeras fotos com ele e escolhi algumas para o material. Não consultei a família, não preciso. O meu partido (PTB) é coligado com o dele, o que me permite usar a sua imagem”, alega o candidato que, para reafirmar sua devoção ao clã, exibe no punho esquerdo um relógio com a imagem de Bolsonaro. O acessório, conta, foi presente de um empresário e apoiador fluminense.
A decisão de abandonar a corrida por uma cadeira na Câmara e migrar para a campanha a deputado estadual, revela Queiroz, também foi endossada pelos Bolsonaro. Quatro meses antes de oficializar sua candidatura, o ex-PM teve um encontro secreto no Rio, durante o feriado da Páscoa, com o filho Zero Um do ex-capitão. “Naquela época, o Flávio (Bolsonaro) já me aconselhou a vir como estadual, que seria mais fácil. Argumentou que tinha vários nomes fortes bolsonaristas para deputado federal e poderia ser mais complicado”, lembra. Além do conselho e do uso da imagem do presidente – que afirma a todo instante ter sido feita sem uma autorização formal de Bolsonaro –, Queiroz diz que não tem sido apoiado formalmente pela família. “Ninguém é inimigo, mas também não vou forçar a barra. Sei que se ele (Jair Bolsonaro) aparecer junto comigo, toda a imprensa vai cair em cima”, comenta.
Apesar de ter se ventilado em Brasília a informação de que o ex-PM estaria ressentido com a família, se sentindo abandonado pelo amigo de longa data – ele e Bolsonaro se conheceram em 1984, na Vila Militar do Exército no Rio de Janeiro – e com receio de sofrer eventuais retaliações diante dos segredos que guardaria para proteger o clã, Queiroz nega. Ele também refuta com veemência a informação de que teria organizado um dossiê com tudo que julga importante e enviado a Brasília. “Isso não existe. Só pode ser coisa de gente que não gosta de mim e está próxima ao governo”, desconversa, posando ao lado de seu carro, com o vidro traseiro devidamente adornado com o adesivo em que surge junto de Bolsonaro. Quando questionado se o candidato à presidência de seu partido, Roberto Jefferson, não poderia ficar incomodado com a sua postura, o ex-PM dispara: “O Roberto (Jefferson) não diz que se candidatou para ajudar o Bolsonaro? Então estou fazendo a minha parte.”
Queiroz, apontado como o operador do esquema de desvio de salários no gabinete de Flávio Bolsonaro e que chegou a passar quase um mês na cadeia, decidiu se lançar formalmente na política depois que o caso voltou à estaca zero. O processo foi anulado em 2021, após o entendimento judicial de que as principais provas do inquérito haviam sido obtidas de forma irregular. Em franca campanha, o ex-PM tem saído de casa às 7h da manhã e só retornado por volta da meia-noite. Seu périplo em busca de votos vai desde aparições em feiras livres de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, a palestras de médicos sobre o uso de cannabis medicinal, como estava prevista na agenda desta quinta-feira (25). Com o discurso em defesa da família e da segurança pública, Queiroz afirma contar com votos fiéis de policiais militares e de bolsonaristas. Como diz em seu slongan, ele faz questão de demonstrar, pelo menos por enquanto, “lealdade de verdade” ao clã.