Militantes ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) começaram a chegar na noite de segunda-feira a Curitiba e estão montando acampamentos em terreno ao lado da rodoviária para aguardar o depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sergio Moro, previsto para esta quarta-feira, às 14h.
A movimentação começou por volta das 22h de segunda-feira – até o final da manhã, 23 ônibus com militantes haviam chegado ao local. A maioria dos sem-terra é do próprio estado do Paraná, mas há manifestantes também vindos de São Paulo. Outros ônibus estão chegando – a Polícia Rodoviária tem feito bloqueios e revistado os veículos antes de chegarem a Curitiba.
A expectativa do MST é reunir 20 mil manifestantes na cidade para prestar apoio ao petista, que será ouvido em processo que apura se ele recebeu propina da empreiteira OAS no total de R$ 3,7 milhões por meio da cessão de um apartamento tríplex no Guarujá e do armazenamento de presentes recebidos por Lula no exercício da Presidência.
O acampamento que os sem-terra estão montando não contraria a decisão da juíza Diele Denardin Zydek, da 5ª Vara Pública da Fazenda do Paraná, que, atendendo a um pedido do prefeito Rafael Greca (PMN), vetou acampamentos na cidade das 23h de segunda-feira até o término do depoimento de Lula.
A ação, inclusive, cita nominalmente o MST, alegando risco à segurança pública da cidade, já que a expectativa dos grupos que apoiam Lula é reunir cerca de 50 mil pessoas na cidade – só a organização de sem-terra espera levar 20 mil militantes à capital paranaense. Além dos sem-terra, outros grupos de esquerda já anunciaram que irão a Curitiba mesmo com a decisão judicial.
A decisão, no entanto, deixava aberta a possibilidade de a prefeitura e os movimentos que vão a Curitiba apoiar Lula ou a Operação Lava Jato fecharem acordo para ocupação de determinadas áreas. Foi o que ocorreu com o terreno ao lado da rodoviária, que pertence à União e foi cedido ao MST – a prefeitura deu o aval para a instalação.
Outros grupos de esquerda, no entanto, já anunciaram que não irão respeitar a decisão da juíza, alegando que ela fere o direito de ir e vir e de livre manifestação. “A medida [decisão judicial] é uma forma de criminalização dos movimentos sociais, porque busca impedir a vinda pacífica e democrática de milhares de pessoas que buscam debater os rumos da democracia (…), os atuais ataques contra os direitos sociais pelo governo Temer, assim como o papel hoje político cumprido pelo Judiciário”, afirmou a Frente Brasil Popular em nota publicada nas redes sociais, confirmando a realização das comitivas até Curitiba.
Nesta terça-feira, a prefeitura mudou o local em que protestarão os grupos de esquerda que apoiam Lula – antes na região conhecida como Boca Maldita, a concentração agora foi para a praça Santos Andrade, ao lado da Universidade Federal do Paraná, também na região central. Os manifestantes que apoiam a Lava Jato e pedem a condenação de Lula ficarão no Centro Cívio – os dois locais são palcos tradicionais de manifestações.
Bloqueio
Na sentença, em que também determina um bloqueio para impedir que esses grupos se aproximem do local do depoimento, a juíza afirma que as preocupações da prefeitura “denotam o justo receio de que a posse dos bens localizados no entorno da sede da Justiça Federal seja molestada devido ao grande número de pessoas esperadas na data designada para a audiência, fato amplamente divulgado pela mídia nacional”.
A juíza estabeleceu multa de 50 mil reais em caso de montagem de acampamentos e de 50 ou 100 mil reais em caso de passagem de carros e pedestres por áreas próximas à Justiça Federal, de acordo com a proximidade. Procurada por VEJA, a Prefeitura de Curitiba informou que “o interdito visa garantir que não haverá práticas que coloquem em risco a segurança e a mobilidade da população, bem como a invasão de áreas protegidas pelas forças policiais, assegurando o funcionamento do Poder Judiciário e, ainda, a integridade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”.
(Colaborou Vagner Rosário, em Curitiba)