Mirando a prefeitura do Rio, Professor Tarcísio ataca aliança Lula-Paes
Com discurso voltado contra o atual prefeito, o deputado federal do PSOL antecipa o debate eleitoral e quer unir a esquerda
O deputado federal Tarcísio Motta decidiu se antecipar no jogo eleitoral, que acontece somente no ano que vem, ao lançar sua pré-candidatura à Prefeitura do Rio. O objetivo é movimentar o tabuleiro e articular uma improvável frente de esquerda, algo que não foi visto nas últimas disputas pelo comando da cidade. Para isso, ele volta seu discurso contra o atual prefeito, Eduardo Paes (PSD), que vai buscar a reeleição, com provável apoio de Lula e do PT. A VEJA, o parlamentar detalha seu projeto para a campanha, as articulações políticas e a postura de seu partido, que apesar de integrar a base do governo federal, não costuma concordar com todos os movimentos do presidente.
Por que o senhor decidiu antecipar a disputa e se apresentar como candidato pelo PSOL à prefeitura do Rio? O PSOL está se preparando para governar essa cidade já há um bom tempo. A maioria decidiu pelo meu nome, em plenárias internas e terminamos esse processo com unidade. Decidimos fazer isso agora exatamente para termos tempo de construir uma frente de esquerda.
Isso não parece provável, já que o prefeito Eduardo Paes (PSD) conta com apoio ainda que informal de Lula. Como pretende unir a esquerda na cidade? É o terceiro mandato de Paes e a cidade está cara, violenta, desigual, com muita pobreza. Ele não vai tirar o Rio de Janeiro do poço, que ele próprio cavou. Foi ele que empurrou a cidade para lá. Queremos lembrar às pessoas de que a saída pela direita, com o Marcelo Crivella, tornou os problemas ainda piores, e portanto, a gente precisa ousar ter outra saída para isso.
Com quais partidos pretende conversar? De cara, temos PT, PCdoB, PV, PDT, PSB, Unidade Popular e PCB. Também pretendemos sentar com movimentos sociais que existem na cidade. Vamos conversar com todo mundo que, do ponto de vista programático, concordar com essa busca de uma cidade de direitos, uma cidade que não seja essa nem da ganância, nem do ódio.
Essas articulações já avançaram? Temos sinalizações positivas, por exemplo, do deputado federal Lindbergh Farias (PT), conversas muito profícuas com o PCdoB, com quadros como a deputada federal Jandira Feghali e a deputada estadual Dani Balbi. Mas ainda estamos distantes da eleição.
E com o PT, que articula a possibilidade de apontar o vice de Paes? A gente tem muito orgulho de ter feito a campanha do Lula desde o início. Diferentemente do Paes, que só entrou ali no final do primeiro turno. Ideologicamente, somos nós que representamos Lula no Rio. Paes, por sua vez, já deu mostras várias vezes que sua lógica é a do centrão, da direita. As eleições de 2018, demonstraram que o importante é a esquerda permanecer unida. Nunca tivemos unidade nas candidaturas à Prefeitura, concorremos separados e perdemos em todas as disputas desde 2012. O PSOL é o maior partido de esquerda na cidade do Rio já não é de hoje. É natural encabeçarmos a chapa.
O presidente Lula parece estar fechado com o prefeito. É possível furar essa costura? Qual o problema do Lula ter um palanque duplo no Rio? E mesmo que ele faça uma opção de apoiar somente o Eduardo Paes — espero que não —, vamos fazer um diálogo com o eleitor do Lula para dizer o quanto o nosso programa expressa um outro Brasil.
O que o senhor defende para a cidade? O Rio precisa fazer uma revolução urbana, o que significa pensar em trabalho e renda. É necessário atacar claramente as desigualdades sociais, por meio de um programa de renda mínima carioca. Queremos construir 100 mil casas para 300 mil habitantes, em quatro anos. Vamos ocupar o Centro e a Região Portuária para implantar o Porto Moradia, não “Porto Maravilha” como o prefeito propagandeia. Também queremos introduzir a tarifa zero nos transportes e uma guarda municipal que não seja a vilã do camelô, do artista de rua, apenas na lógica da repressão. No campo da educação, pretendemos implantar um projeto integral e inclusivo, com currículo integrado que articule esporte, cultura e ensino. Por fim, fazer uma revolução ecológica com reformas que respeitem o meio ambiente.