Médium goiano é suspeito por quatro mortes em dois estados
Antônio Miguel Rodrigues estaria envolvido em três crimes em Barreiras, na Bahia, e em dois homicídios em Aparecida de Goiânia
Um médium de Aparecida de Goiânia (GO), Antônio Miguel Rodrigues, de 53 anos, é considerado suspeito em quatro casos de homicídios e um de lesão corporal grave em pessoas que se submeteram aos seus procedimentos na Bahia e em Goiás. Ele está sendo investigado pela polícia dos dois Estados, onde parentes das vítimas registraram queixas.
Rodrigues fazia cirurgias espirituais na Bahia, ao menos uma vez por mês, há mais de um ano, e cobrava por elas e pelos medicamentos manipulados e alimentos para uma dieta que os pacientes deveriam seguir. As primeiras denúncias ocorreram no dia 4 deste mês em Barreiras, no Estado, onde mais de 500 pessoas do nordeste passaram pelos procedimentos.
Entre as vítimas do atendimento nordestino estão Vanderluce Soares dos Santos, de 42 anos, e Arnaldo Domingos dos Passos, de 78 anos, que morreram de infecção generalizada, respectivamente, nos dias 29 e 31 de dezembro de 2018 no Hospital do Oeste, na cidade.
Uma das filhas de Passos, que procurou a delegacia e prefere não divulgar o nome, contou que após o pai começar a ter os problemas, “o médium ainda falou que não era para a gente levá-lo ao médico”. Para ela, “o médium é um charlatão”.
A vítima de lesão corporal grave, também da região, é o aposentado Mário Joaci Pereira Rocha, de 71 anos, que fez cirurgias para a retirada de líquidos nos testículos. Segundo o idoso, os órgãos foram perfurados com oito agulhas pelo médium. “Os relatos eram de que ele fazia cirurgia espiritual, mas na hora lá ele enfiou oito agulhas nos meus testículos”, contou ele.
Os seus testículos foram furados sem anestesia. “A primeira furada foi uma dor horrível, depois veio a segunda, maior ainda, e da terceira em diante fiquei anestesiado de tanta dor. Nunca senti tanta dor na vida”, conta o aposentado.
Ainda de acordo com Rocha, ele foi colocado deitado em uma sala com outras 20 pessoas, que também foram operadas de uma vez pelo médium. “Ele mexia em um, depois outro. Ia passando e a gente vendo aquilo, assustado”, disse.
A polícia investiga as condições do ambiente onde eram realizados os procedimentos em Barreiras, uma vez que parentes das vítimas relataram que o médium usava objetos como tesoura, bisturis e agulhas.
Já em Aparecida de Goiânia, onde as denúncias contra o médium apareceram depois que a polícia da Bahia iniciou as investigações, relatos apontam até para o uso de martelo nos procedimentos.
As vítimas do município são Sebastiana Peixoto Pires, de 73 anos, morta ano passado, e Raimunda Souza Matos, de 52 anos, morta em 2015 no centro espírita do médium.
“Uma das filhas (de Sebastiana) que acompanhou a mãe na cirurgia falou que ele usava instrumentos, como bisturi, tesouras, seringa, e relatou uma história que ele usou um martelo numa situação específica, dentro da sala de cirurgia”, disse a delegada Cybelli Tristão.
Defesa
À polícia, o médium alegou inocência com relação aos casos da Bahia. Ele é responsável por um centro espírita chamado Grupo Espírita Bezerra de Menezes, em Aparecida de Goiânia. Ele chegou a se apresentar à polícia de Goiás no dia 5, mas ainda não havia registro de denúncias contra ele na cidade goiana. O depoimento do médium no Estado será na próxima semana.
A reportagem não conseguiu contato com o médium Antônio Miguel Rodrigues nem com o centro espírita Bezerra de Menezes. Já a Federação Espírita Brasileira (FEB) declarou que não poderia se manifestar sobre o assunto porque não tem conhecimento se o médium tem sua atividade reconhecida pela representação estadual da entidade. O escritório regional não foi localizado.
(Com Estadão Conteúdo)