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Marcelo Odebrecht: ‘duvido’ que alguém se elegeu sem caixa 2

Para empreiteiro, 'criminalização' das doações oficiais, que ligavam empresas a políticos, estimulou contribuições por fora nos últimos '20, 30 anos'

Por Da Redação
Atualizado em 4 jun 2024, 18h15 - Publicado em 27 mar 2017, 11h27
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  • O empresário Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo que leva seu sobrenome, declarou em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no início do mês, que o financiamento ilegal de campanhas chegou a um nível de usualidade que incluía todos aqueles que foram eleitos. “Duvido que exista um político no Brasil que tenha sido eleito sem caixa 2. E, se ele diz que se elegeu sem, é mentira, porque recebeu do partido. Então, impossível”, afirmou.

    A fala do empresário fez parte do depoimento prestado na ação que apura abuso de poder político e econômico por parte da chapa formada pela então presidente Dilma Rousseff (PT) e pelo sucessor, Michel Temer (PMDB), na campanha pela reeleição. Naquele ano, somando a então presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais, 1626 pessoas conseguiram votos suficientes para assumir algum dos cargos em disputa.

    No que diz respeito às contribuições da Odebrecht, o empreiteiro apontou que, dos recursos disponíveis para financiar campanhas, 75% eram pagos fora do sistema oficial. “Caixa 2, para a gente, e eu acho que para todas as empresas, era visto como natural. Os valores definidos pelos candidatos eram tão aquém do que eles iam gastar que não tinha como a maior parte das doações não ser caixa 2. Era impossível”, declarou ao TSE.

    O empreiteiro afirmou que, ao acertar propinas com parlamentares ou ocupantes de cargos executivos, o valor podia ser pago nas eleições tanto como doação oficial, o “caixa 1”, quanto por fora. No entanto, ele ponderou também que parte dos valores do chamado caixa 2 não foi destinada a campanhas com uma “contrapartida específica”.

    Doação oficial

    Marcelo Odebrecht alegou que como a doação oficial acaba por vincular a empresa ao candidato eleito – uma vez que os registros da origem dos recursos permanece pública após o pleito –, ela foi “criminalizada no Brasil”. E que por isso, ao longo dos últimos “20, 30 anos”, o dinheiro não contabilizado para campanhas foi crescendo, o que na visão dele, há quase dois anos preso pela Operação Lava Jato, “precisa mudar”.

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    “A gente tinha medo de doar com medo da penalização que havia”, sustentou ele durante seu depoimento. O empreiteiro ressaltou que os empresários têm a preocupação de não mostrar tudo o que gastam nas campanhas para evitar que alguns concorrentes, vendo eventuais disparidades nas contribuições, cobrem mais.

    Arrependimento

    Num dos trechos do depoimento, Odebrecht afirmou que se arrepende de ter tratado de propina no governo federal. Falando de forma geral, considerou que não só ele, mas toda a sociedade, errou ao assistir, supostamente de forma passiva, o esquema de aparelhamento político no setor público, potencial fonte de desvios e do financiamento ilegal de campanhas.

    “O governo sabia, a população sabia, eu sabia que o meu empresário, para atuar na Petrobrás, de alguma maneira, tinha de atender aos interesses políticos daquela diretoria. Eu fazia vista grossa, a sociedade fazia vista grossa, todo mundo fazia vista grossa”, disse. “Olhando para a frente, precisa mudar muita coisa, entendeu? Essa questão da Lava Jato foi positiva, porque acho que vai corrigir daqui para a frente.”

    (Com Estadão Conteúdo)

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