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Maceió: a terra afunda, prejudica moradores e complica a Braskem

Três bairros têm áreas sob o risco de ser engolidas por crateras, e a suspeita é que o estrago tenha sido produzido por poços de mineração da empresa

Por Mariana Zylberkan
Atualizado em 4 jun 2024, 14h59 - Publicado em 29 nov 2019, 06h00
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  • Até para quem já vive anestesiado com os mais variados descalabros que acontecem todos os dias no Brasil o caso representa um choque: três bairros inteiros em Maceió vivem há pelo menos um ano sob o risco de ir literalmente para o buraco, com porções sendo engolidas por crateras provocadas em consequência da exploração de poços de mineração. Em um cenário digno de filme catástrofe, fendas enormes abertas no asfalto tornaram ruas intransitáveis em um trecho de 3 quilômetros quadrados da capital alagoana. Residências ganharam fissuras tão grandes que se encontram a um passo de desabar e quase nenhum comércio ou serviço funciona mais por lá: escolas, creches e postos de saúde foram fechados por falta de segurança. Só não se transformou em um lugar fantasma porque ainda há moradores que se recusam a deixar o local e outros que continuam a visitar suas casas rachadas, apesar dos alertas de perigo da Defesa Civil. Cerca de 1 500 pessoas terão de ser removidas de 400 imóveis condenados e outras 2 000 já tomaram essa decisão por conta própria. Gigante da indústria química e petroquímica, a Braskem, que tem como sócias a Odebrecht e a Petrobras, é acusada pelo Ministério Público de provocar o estrago. De acordo com nota encaminhada pela direção da companhia a VEJA, ainda não há provas de que a atividade de mineração seja a responsável pelo desastre. “A Braskem vem colaborando com as autoridades e realizando estudos para compreender as causas do fenômeno”, diz o documento.

    Nas últimas quatro décadas, a empresa opera por ali retirando de 35 poços espalhados por Maceió o sal-­gema, matéria-prima para a produção de PVC. Reclamações de moradores a respeito de fissuras nas casas em decorrência de movimentações no terreno são recorrentes há mais de dez anos. “A atividade da Braskem gerou um aprofundamento progressivo dos buracos nos quais ocorre a exploração, e os estudos de impacto ambiental não foram devidamente atualizados”, afirma o engenheiro e especialista em geotécnica Abel Galindo, um dos primeiros a alertar sobre o problema. “É uma mineração desastrosa, feita de forma desorganizada e em cima de uma falha geológica”, acusa. Em 2018, um abalo sísmico que atingiu a capital alagoana piorou tudo, acelerando o processo de movimentação das rochas arenosas no subsolo. Na área mais atingida pelo fenômeno, o terreno cedeu 40 centímetros em média, o suficiente para abrir fissuras no asfalto e abalar a maior parte das construções do local.

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    PROTESTO – Ato realizado em maio: críticas à petroquímica (Ailton Cruz/.)

    Embora a Braskem negue a responsabilidade, um estudo do Serviço Geológico do Brasil divulgado em abril culpou a empresa do problema. A remoção emergencial dos moradores em área de risco foi deliberada pela Braskem no último dia 19, em conjunto com as autoridades públicas, após o laudo de um instituto alemão contratado pela própria companhia ter atestado a necessidade de evacuação. A medida era descartada inicialmente pela petroquímica. Agora, ela pode ser condenada a pagar 20,5 bilhões de reais em indenizações, segundo ação do Ministério Público Federal. O fato foi determinante para ocasionar outro prejuízo para a petroquímica, tida como a joia da coroa da Odebrecht. A venda dessa unidade por cerca de 20 bilhões de reais à companhia holandesa LyondellBasell era considerada a única forma de evitar o processo de recuperação judicial do grupo, que acabou ocorrendo em junho. A negociação afundou com o agravamento da crise ambiental em Maceió que envolve a Braskem.

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    (./.)
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    Colaborou Victor Irajá

    Publicado em VEJA de 4 de dezembro de 2019, edição nº 2663

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