Três pessoas, entre elas a coordenadora regional do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) em Tucuruí, no Pará, Dilma Ferreira da Silva, de 47 anos, foram assassinadas nesta sexta-feira, 22, no Assentamento Salvador Allende, a 50 km da sede do município. O marido da coordenadora, Claudionor Amado da Silva, e Milton Lopes, que trabalhava para o casal, também foram mortos na residência da família. De acordo com a Polícia Civil, eles foram encontrados com ferimentos à faca e sinais de tortura pelo corpo.
Na residência do casal, funcionava também um comércio de mantimentos e bebidas. Os investigadores enviados pela Delegacia Seccional de Tucuruí ao local encontraram a casa toda revirada. Uma das hipóteses é de latrocínio, mas a investigação não descarta a possibilidade de crime relacionado às atividades de Dilma como liderança do MAB e do assentamento. A área está no centro de disputas fundiárias. Em nota, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), disse que, se confirmado que as mortes aconteceram num contexto de conflito agrário, este será o primeiro massacre no campo em 2019.
Os corpos foram removidos para o Instituto Médico Legal (IML) de Tucuruí e passarão por perícia. O delegado que atua no caso ouvia testemunhas e um suspeito de participação nos crimes no início da noite. A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Pará informou que os detalhes do caso serão divulgados após a conclusão da fase inicial da investigação.
O MAB divulgou nota denunciando os assassinatos e pedindo o rápido esclarecimento dos crimes. Conforme o movimento, Dilma Ferreira iniciou sua militância em 2005, “contribuindo nas organizações dos grupos de base do MAB, tanto na área urbana, nas ilhas e, em especial, nos assentamentos.”
Em 2011, a coordenadora participou de audiência com a então presidente Dilma Rousseff (PT), entregando um documento que pedia uma política nacional de direitos para os atingidos por barragens. “O assassinato de Dilma é mais um momento triste para a história dos atingidos por barragens, que celebravam no dia de hoje o Dia Internacional da Água. O MAB exige das autoridades a apuração rápida deste crime e medidas de segurança para os atingidos por barragens de todo o Brasil”, diz a nota.
O Assentamento Salvador Allende se estabeleceu em terras da antiga Fazenda Piratininga, após um longo histórico de conflitos. O local foi ocupado em 2007 por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Em agosto daquele ano, as famílias foram vítimas de dois ataques de pistoleiros. Várias pessoas ficaram feridas e a área foi desocupada. Depois de marchas e protestos, em 2011 o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) iniciou a medição dos lotes do assentamento.