O advogado José Yunes deixou a assessoria do governo do presidente Michel Temer após reconhecer que recebeu um pacote de 1 milhão de reais. VEJA teve acesso ao vídeo com o depoimento espontâneo que o advogado amigo do presidente prestou à Procuradoria-Geral da República, em Brasília. Yunes confirma que recebeu o pacote em seu escritório em São Paulo das mãos do doleiro Lúcio Funaro, mas não sabia que era dinheiro. Estaria apenas fazendo um favor ao ministro Eliseu Padilha. “Pelo relacionamento que tenho, ele (Padilha) pediu essa gentileza para mim”, disse Yunes. Segundo um delator da Lava-Jato, o dinheiro era parte de uma propina de 10 milhões de reais que a empreiteira Odebrecht repassou ao PMDB, em 2014, a pedido do então candidato Michel Temer.
O episódio provocou a demissão de José Yunes em dezembro. Ele diz que conversou com Lúcio Funaro em seu escritório de dez a doze minutos. O advogado diz que não conhecia o doleiro e que apenas depois do encontro é que resolveu pesquisar na internet e descobriu de quem se tratava. Não se preocupou com isso antes porque estava atendendo a um pedido de um velho conhecido, Eliseu Padilha. “O que me deixou um pouco atemorizado foi depois que eu passei a saber quem é essa figura do Lúcio Funaro”, disse Yunes. “É uma pessoa que jamais eu poderia ter qualquer convívio”.
Os procuradores que ouviram Yunes pediram que o advogado mostrasse com as mãos o tamanho do pacote que ele recebeu de Funaro. A versão de Yunes é contraditória. Aos 11 minutos do depoimento, ele diz que “eram pacotes assim”, no plural. Quatro minutos depois, Yunes explica novamente o tamanho, mas faz referência a “pacote”, no singular. Yunes faz sinais com as mãos mostrando que o tal pacote teria uns 30 centímetros de comprimento e que era alto.
De acordo com o ex-diretor da Odebrecht, Cláudio Mello, depois de um jantar com o então candidato a vice-presidente, Michel Temer, no Palácio do Jaburu, a empreiteira se comprometeu a “doar” 10 milhões de reais para a campanha do PMDB. Parte do dinheiro, 6 milhões, foram alocados para a campanha de Paulo Skaf, em São Paulo. Outra parte, 4 milhões de reais, foram pagos via Eliseu Padilha, segundo o delator. Desse total, um milhão foi levado ao escritório de Yunes.
No depoimento, o ex-assessor contou que quando entregou a carta de demissão a Temer o presidente o convidou para almoçar. Durante a refeição, o ministro Padilha chegou ao gabinete. Yunes disse que esperava um gesto de solidariedade do ministro da Casa-Civil, já que sua saída do governo estava relacionada ao escândalo do pacote de dinheiro. Padilha não tocou no assunto. “Eu estava esperando que ele tocasse…”, diz Yunes. “Foi uma frustração pra mim. Foi como se nada tivesse acontecido. Saí de lá decepcionado”.
Depois da queda de Yunes, o doleiro Lúcio Funaro, preso desde julho, também fez acordo de delação. A versão dele para o milhão da dupla Padilha-Yunes é diferente. Ele diz que pegou uma caixa com 1 milhão de reais no escritório de Yunes e que enviou o dinheiro para o ex-ministro Geddel Vieira Lima, em Salvador.
Yunes também confirmou ter conversado sobre o assunto com o presidente Temer. Durante o depoimento, os procuradores lembraram que o ex-deputado Eduardo Cunha já havia insinuado ter informações sobre essa entrega de dinheiro. “Trocando ideia até com o presidente Michel Temer, sobre essa pergunta, que a ele e me envolve, falei para o presidente: ‘deve ser aquele sujeito que foi lá e está tentando passar alguma mensagem para vocês’”, disse Yunes, sugerindo que Lúcio Funaro estivesse por trás de uma tentativa de chantagem contra o governo.
Veja o depoimento de Yunes: