Em uma nova leva de áudios a que VEJA teve acesso, o executivo da J&F Ricardo Saud conversa com Frederico Pacheco de Medeiros, o Fred, primo do senador afastado Aécio Neves sobre o pedido de dinheiro que o próprio senador havia feito ao empresário Joesley Batista. Saud diz que chamou Fred para conversar porque Joesley “ficou sem jeito” de tratar das questões com Andrea Neves, a irmã do senador. Segundo Saud, Aécio teria dito a Joesley que enviaria uma pessoa de sua confiança para tratar do pedido de dinheiro, só não avisou que seria a própria irmã. Segundo Saud, como Joesley nunca havia tratado de assuntos dessa natureza com Andrea, o empresário “tomou um susto”.
“A Andrea esteve com o joesley. Ele tomou um susto. O Aécio manda a Andréia aqui falar do assunto que veio falar? Aí como é que vamos fazer? o Joesley falou: ‘Ué, moça, quem que é ocê? Ah, ocê que é a Andrea? A que faz tudo, a famosa, a braba? Aí ela falou: ‘O Aécio conversou com você?’. Mas aí ele ficou sem jeito, ué. Nós nunca tivemos assunto com ela, véio. Como é que o Aécio manda ela vim cá? Por isso eu te chamei”, diz Saud.
Aécio Neves foi gravado em março pelo próprio Joesley Batista. Na conversa, o tucano pede 2 milhões de reais ao empresário alegando que precisava do dinheiro para pagar os advogados que atuavam em sua defesa na Operação Lava Jato. Na conversa gravada, Joesley e Aécio negociam de que forma seria feita a entrega do dinheiro. O empresário teria dito que se o senador recebesse pessoalmente o dinheiro, ele mesmo, Joesley, faria a entrega. E, se Aécio mandasse um preposto, o empresário faria o mesmo. Foi quando o senador disse a seguinte frase: “Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação. Vai ser o Fred com um cara seu. Vamos combinar o Fred com um cara seu porque ele sai de lá e vai no cara. E você vai me dar uma ajuda do c…”.
Ex-diretor da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), Fred foi um dos coordenadores da campanha de Aécio Neves à Presidência em 2014. Ele foi destacado por Aécio para receber o dinheiro das mãos de Saud. No áudio, Fred diz que tem “dois assuntos” a tratar com o diretor da J&F: o pagamento dos 2 milhões de reais e a venda de um imóvel da família de Aécio no Rio de Janeiro para Joesley, que, segundo Saud, seria comprado por Joesley apenas “para ajudar” Aécio.
Na delação, Joesley Batista narrou o encontro que teve com a irmã de Aécio: “O dia que a Andrea me procurou, ele [Aécio] me pediu esses 2 milhões e falou que precisava de outros 40 milhões. E que os 40 milhões a mãe dela tinha um apartamento no Rio de Janeiro e se eu não queria comprar esse apartamento… E parece que o apartamento existe. Eu não sei se vale os 40 milhões. Mas aí eu nem fui lá, nem nada”, disse Joesley.
A defesa do senador afastado Aécio Neves enviou nota dizendo que as gravações produzidas pelos delatores da J&F “foram induzidas e manipuladas com o objetivo de produzir aparências de provas que justificassem seus acordos de delação premiada”. A nota afirma ainda que outra gravação de uma conversa telefônica entre Andrea Neves e o próprio Joesley “comprova que os delatores mentiram” e que ela procurou Joesley “exclusivamente para tratar da venda de um apartamento da família”.