O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot disse, em entrevista à Reuters publicada nesta sexta-feira, acreditar que o presidente Michel Temer (PMDB) indicou Fernando Segovia para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal (PF) com o intuito de desacelerar e desviar as investigações de corrupção no país para acabar com “uma campanha anticorrupção que desafia séculos de impunidade no Brasil”.
Segundo Janot, Segovia, que assumiu importante papel na Operação Lava Jato, foi nomeado para cumprir uma só missão: “Desviar as investigações de corrupção no país”. Para o ex-procurador, as declarações do novo diretor-geral da PF revelam que o objetivo central daqueles que o nomearam é “desacreditar as ações em andamento, podendo atrapalhar seus efeitos”. “Agora é a hora de falar para que todo o nosso esforço não seja em vão”, comenta.
Fernando Segovia tem afirmado que suas “declarações e atitudes sempre tiveram como objetivo fortalecer as investigações contra os crimes de desvio de recursos públicos e contra a corrupção no Brasil”.
Questionado sobre a relação de sua sucessora na Procuradoria-Geral da República (PGR), Raquel Dodge, com outros procuradores, Janot preferiu não comentar o assunto e afirmou ter uma relação “profissional e respeitosa” com ela. Disse, entretanto, que o gabinete da procuradora submeteu menos propostas de denúncias ao Supremo Tribunal Federal (STF) do que seria esperado, considerando a quantidade de casos que foram deixados a Dogde após assumir o cargo.
Crítica
Nesta semana, Rodrigo Janot já havia criticado Segovia. Em um evento quarta-feira 29, o ex-procurador ironizou a declaração do diretor-geral da PF que, ao tomar posse no cargo, pôs em dúvida se uma mala com 500.000 reais em dinheiro vivo seria prova suficiente de crime de corrupção. “Só pode ser brincadeira”, disse.
Na cerimônia de sua posse, no último dia 20, Segovia criticou a PGR que, na gestão de Janot, denunciou duas vezes o presidente Temer, a primeira delas pelo crime de corrupção passiva no caso da mala com 500.000 reais entregue por um executivo da JBS ao ex-assessor presidencial Rodrigo Rocha Loures (PMDB).