A ideia do jejum oficial anunciado pelo presidente Jair Bolsonaro nesta quinta-feira, 2, partiu de uma pregação do apóstolo Luiz Hermínio, líder da congregação Mevam (Missões Evangelísticas Vinde Amados Meus), cuja sede é em Itajaí (SC). De vertente pentecostal e entusiasta de Bolsonaro desde as eleições de 2018, o pastor fez um apelo ao presidente, governadores e prefeitos para que decrete oficialmente um “jejum de arrependimento” no país para conter a pandemia do coronavírus.
“Presidente Bolsonaro, por favor, decrete um jejum. Nós podemos decretar um jejum como igreja. Mas o senhor é autoridade. Se você for em rede nacional e pedir o jejum… Que jejue o maçom, o budista, o islã, os católicos, os evangélicos. Numa pandemia, não tem mais religião que se estabeleça, é um só espírito, um só corpo”, disse o pastor, frisando os sobrenomes “proféticos” Messias do presidente e Moisés do governador de Santa Catarina. A mensagem foi transmitida durante o culto online no último domingo, 29 de março.
Um grupo de pastores amigos de Hermínio foi ao Palácio da Alvorada nesta quinta-feira e levou a mensagem a Bolsonaro, que acatou ao apelo. “Para aqueles que têm fé e acreditam, domingo é o dia do jejum”, disse o presidente em vídeo que circula nas redes sociais. Depois, Hermínio enviou uma carta formal a Bolsonaro, pedindo para que, além de chamar a ação religiosa, institua o “Dia Nacional do Jejum”. Segundo ele, seria um dia de meditação e oração para que todo o brasileiro, “independente do credo”, possa se arrepender de “todas as práticas imorais, ilegais e pecaminosas, que temos sistematicamente vivido como nação brasileira”.
Como inspiração, o apóstolo disse a VEJA que outros países, como Guatemala, Paraguai e Estados Unidos, já haviam feito uma convocação para um dia de oração e jejum. E citou como referência a história bíblica de Jonas (o profeta que foi engolido pela baleia) e do rei de Nínive. Jonas vinha profetizando que o povo da cidade deveria se arrepender dos seus pecados senão seria destruído por Deus. A pregação chegou aos ouvidos do rei, que decidiu decretar um jejum oficial a toda a população, o que incluiu até os animais.
“E então proclamou em Nínive: ‘Eis que por decreto do rei e de seus nobres; fica proibido a todo homem ou animal, bois ou ovelhas, provar de qualquer alimento! Portanto, não havereis de comer nem beber nada! Cobri-vos de vestes de arrependimento e lamento”, diz o trecho da Bíblia. Conforme a história, Deus aceitou o arrependimento verdadeiro do povo e voltou atrás na decisão de destruir a nação.
ASSINE VEJA
Clique e Assine“Levantem o jejum no Brasil e vocês vão ver esse vírus recuar, porque a terra clamou. Deus não suporta um coração que clama”, disse Hermínio, na pregação. Na visão dele, a pandemia acometeu o mundo como uma prova para que as pessoas se lembrem de Deus. “O próprio Deus, que permite o juízo, também levanta um homem para derrubá-lo. Quando as pessoas estão bem, passam a viver uma vida antropocêntrica, não pensam mais em um ser superior. Deus parou o funcionamento externo para olharmos para dentro”, afirma.
Apesar de ter apoiado o presidente nas eleições passadas, o pastor disse que nunca o conheceu pessoalmente. Do governo, teve encontros só com a ministra das Mulheres e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que também é evangélica. Ele chegou a ser chamado para o encontro de Bolsonaro com pastores ocorrido em Brasília, em janeiro, mas desistiu da viagem na última hora por causa de um “aviso divino”. “Mandei agora uma carta a Bolsonaro e, desde ontem, muitos pastores e deputados têm me ligado. Mas não quero selfie com o presidente”, diz ele.
No segundo semestre de 2018, o pastor já havia ganhado os holofotes no meio evangélico ao dizer aos seus ouvintes para que não reclamassem da facada que Bolsonaro levou durante a campanha eleitoral. “Jesus, para governar, teve que derramar sangue. Então, não reclame da facada. Não há governo sem sangue. Não há governo sem sacrifício. O modelo de Deus é ‘primeiro sacrifica, depois governa’”.