Foi um voo de duas décadas, que começou a ser esboçado ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso e decolou com Lula e Dilma. Na terça-feira 10, num vistoso hangar em Linköping, na Suécia, abriram-se as cortinas para o novo avião de caça da Força Aérea Brasileira (FAB), o Gripen, em dois modelos — o E, para um só piloto, e o F, com dois comandantes. A aeronave, apresentada com pompa e circunstância, envolta em ares de show da Apple ao divulgar seus smartphones e tablets, debaixo de holofotes, é a primeira da parceria da fabricante sueca Saab com um grupo de companhias brasileiras lideradas pelo braço de defesa da Embraer. Até 2026, 36 unidades serão produzidas, com transferência de tecnologia escandinava, a um custo total que chega a 17 bilhões de reais.
Nos próximos anos haverá uma bateria de testes de voo para comprovar a capacidade real do jato para missões de combate. A Aeronáutica receberá as primeiras unidades somente em 2021. O lote substituirá, com o tempo, os caças Mirage 2 000, da francesa Dassault. Ficaram para trás, na disputa por um lugar na frota brasileira, exemplares da Boeing e da própria Dassault. A Saab venceu — mas há fumaça no ar, mesclada a denúncias de corrupção, e ela ainda não foi dissipada. As condições do negócio, postas à mesa durante o primeiro mandato de Lula, estão sendo investigadas dentro da Operação Zelotes, na qual o ex-presidente, preso em Curitiba, é acusado de tráfico de influência. Seus advogados e o então chanceler Celso Amorim, o líder da empreitada, negam qualquer irregularidade. Nada há contra o governo sueco, cujas autoridades chegaram a depor como testemunhas a favor da lisura da transação.
Publicado em VEJA de 18 de setembro de 2019, edição nº 2652