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Frieza e ira de advogado: os detalhes do depoimento do pai de Bernardo

Sem esboçar emoção, Leandro Boldrini nega participação na execução do filho

Por João Batista Jr. Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 14 mar 2019, 12h31 - Publicado em 14 mar 2019, 06h30
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  • O terceiro dia do júri popular sobre a morte de Bernardo, de 11 anos, executado no dia 4 de abril de 2014 por uma superdosagem do sedativo Midazolam, contou com o depoimento do pai do garoto, o médico cirurgião Leandro Boldrini. Ele é acusado por ser o mentor do assassinato do filho. Sem esboçar emoção, a maior parte do tempo com olhar fixo, ele falou ao longo de três horas. Não se negou em responder nenhuma pergunta elaborada pelos promotores, mas seu advogado, Ezequiel Vetoretti, pediu ao cliente para deixar de falar em determinado momento por considerar que a promotoria estava sendo sádica e objetivava tirá-lo do sério. Mesmo assim, os promotores seguiram com as perguntas – sabendo que não seriam respondidas. Uma delas: “O que é ser pai?”.

    Encerradas as perguntas, Vetoretti se levantou e leu um parecer do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, segundo o qual juízes não podem autorizar que promotores façam perguntas quando o réu anuncia o desejo em não responder, sob o risco de causar nulidade do julgamento. A estratégia do advogado de defesa é bastante clara: se Boldrini for inocentado, acatará a sentença a ser proferida, espera-se, nesta sexta; se pegar cadeia, entrará com pedido para anular todo o júri.

    Quando falou, e falou bastante, Boldrini não conseguiu ser claro em pontos fundamentais. Ele afirma ter ido dormir depois do almoço (tilápia, arroz e salada), portanto, não teria visto a mulher, Graciele Ugulini, deixar a residência com Bernardo. Boldrini se enrolou com a precisão do horário naquele dia 4 de abril de 2014, sem conseguir precisar ao certo quando chegou à residência para almoçar e quanto tempo levou para fazer a refeição.

    Uma imagem de câmera mostra a madrasta e o garoto dentro de uma caminhonete às 12h23, quando ela dirigia e levava o menino rumo à morte, na cidade de Frederico Westphalen. O pai diz ter sido informado pela mulher que, quando retornaram da cidade vizinha, Bernardo teria ido dormir na casa de um amigo chamado Lucas. O menino morreu e foi colocado em uma cova vertical às 15h.

    Boldrini e a mulher, na noite de sábado, pouco mais de 24 horas após a execução, foram para uma boate na cidade de Três de Maio. Boldrini só começou a procurar o filho no fim da tarde de domingo, quando foi até o comércio do pai de Lucas saber se a criança estava lá. Depois de contatar amigos e pais de amigos do filho, e de fazer um Boletim de Ocorrência, Boldrini desligou o celular às 23h58 e o ligou novamente no dia seguinte, às 7h. Acordou e foi fazer uma cirurgia no hospital.

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    Alguns trechos do depoimento de Leandro Boldrini:

    Rumo à morte

    “Ela (Graciele) me disse que o Bernardo tinha ido pousar na casa do Lucas, quando voltei do hospital por volta das 20h30, e que teria o levado para Frederico (Westphalen) durante a tarde, onde foi comprar uma TV e um aquário para o Bernardo. Não vi meu filho saindo de casa com ela.”

    O “sumiço do filho”

    “No fim da tarde de domingo, eu fui ao hospital ver os pacientes recém-operados. Como o restaurante do pai do Lucas fica ao lado do hospital, passei para pegar o meu filho. Ele não estava lá. Fui até a casa dele (Lucas), onde me contaram que o Bernardo não tinha ido lá desde sexta. Comecei a maratona de ligações e procura. Liguei para outros colegas, pais… fui passando em toda a minha agenda. Fui então até a praça da cidade, onde havia uma festa. A Graciele só dizia: ‘vamos continuar ligando’, ela estava normal como a água é cristalina.”

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    Estorvo familiar

    “O Bernardo estava começando a ficar mais autônomo, definia o que queria fazer, onde queria ir. Ele não era um estorvo, caso contrário eu poderia ter mandado ele (ir morar) para a Tia Juçara, para as avós, um internato…”

    “Quero rezar no túmulo do meu filho”

    “Eu não mandei matar o meu filho. Podem me decapitar, jurados, mas estarão cometendo um erro. Quem matou foi a Graciele com a Edelvânia. Se eu fui um pai ausente? Fui. Mas só mata quem tem patologia, eu não tenho. Quando sair e tirar as algemas, quero ir direto ao túmulo do meu filho em Santa Rosa, para rezar. Quero retomar a minha vida aqui em Três Passos. Hoje, com certeza, faria as coisas diferentes, trabalharia menos e passaria mais tempo com a família.”

    Infância

    “Meu pai teve três filhos, eu fui o único a fazer faculdade. Ele era rude, simples. Eu nunca recebi um beijo, ele nunca me pegou no colo.”

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