O ex-subsecretário-executivo estadual de Saúde do Rio de Janeiro Gabriell Neves, preso na manhã desta quinta-feira, 7, está no Presídio José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte. Antes de ser transferido, ele será monitorado durante 14 dias para saber se está ou não com novo coronavírus. A medida agora é praxe no sistema prisional fluminense por causa da pandemia. Neves foi alvo da Operação Mercadores do Caos, ação conjunta do Ministério Público com a Polícia Civil. Segundo as investigações, Neves é suspeito de fraudar contratos emergenciais sem licitação de quase um bilhão de reais para comprar produtos como respiradores, máscaras e testes rápidos para detectar Covid-19.
Após o período de monitoramento em Benfica, Gabriell Neves, que é advogado, deverá seguir para o presídio de Bangu 8, na Zona Oeste. No local, estão os presos da Operação Lava-Jato, como políticos e doleiros. Entre os detentos, está o ex-governador Sérgio Cabral, que foi chefe de Neves. VEJA ainda não conseguiu contato com a defesa do ex-secretário-executivo estadual de Saúde.
Em entrevista exclusiva a VEJA, em 24 de abril, Gabriell Neves responsabilizou o secretário estadual de Saúde, Edmar Santos, por ter autorizado todos contratos sem concorrência pública, mas negou irregularidades. Neves foi exonerado pelo governador Wilson Witzel (PSC) em dia 20 de abril exatamente após denúncias de vantagens indevidas.
“As compras eram determinadas pelo secretário Edmar Santos ou com anuência dele. Outras pessoas também poderiam, eventualmente, demandar uma necessidade. Mas tudo era feito em consonância com o secretário. Ele avalizava o que era solicitado pelos quadros técnicos”, explicou Neves a VEJA, em seu escritório, no Centro do Rio. A VEJA, no entanto, o ex-subsecretário-executivo disse que se amparou na lei federal 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, que permite compras emergenciais sem licitação em função do coronavírus.
Segundo o MP, foram encontrados 25 respiradores/ventiladores mecânicos na sede de uma das empresas com mandado de busca expedido, a Arc Fontoura Indústria, Comércio e Representações Ltda. Os aparelhos foram comprados por R$ 183,5 milhões em recursos do Fundo Estadual de Saúde (FES), como mostrou o jornal “O Globo”. Até o momento, quatro pessoas foram presas. Além de Gabriell Neves, estão na lista Gustavo Borges da Silva, Cinthya Silva Neumann e Aurino Batista de Souza Filho. Glauco Octaviano Guerra encontra-se foragido. O caso está sob sigilo.
Procurados por VEJA, Witzel e Edmar Santos não se pronunciaram. Em nota, a Secretaria estadual de Saúde disse que “segue o compromisso de transparência e aderindo as orientações do TCE (Tribunal de Conta do Estado) e MP”. “A secretaria esclarece que todas as informações solicitadas pelos órgãos de controle estão sendo prestadas”, completou.
Gabriell Neves centralizava todas as compras realizadas pela secretaria estadual de Saúde, pasta com influência de Pastor Everaldo Pereira, dono do PSC, partido de Witzel. Neves começou no cargo no início de fevereiro deste ano por indicação de Edmar Santos. Os dois se conheceram em 2016. Naquele ano, Neves era secretário estadual de Ciência e Tecnologia do governo Luiz Fernando Pezão (MDB), preso na Lava Jato. À época, Santos ocupava a direção-geral do Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel, zona norte do Rio.
Na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Gabriell ocupou a chefia de Gabinete do deputado estadual Gustavo Tutuca (MDB). Trabalhou ainda com o pai do parlamentar quando este era prefeito de Piraí. No município do Sul-Fluminense, Neves batia ponto como procurador. Antes de iniciar na gestão Witzel, ele estava como secretário de Saúde de Seropédica, na Baixada Fluminense.
“Há uma diferença de preços estratosférica. Teve um momento que a proposta era oferecida de manhã e, à tarde, não valia mais. Equipamentos que, antes da pandemia custavam 50 mil reais, hoje custa 220 mil reais no preço médio de mercado. Talvez isso dê a impressão de sobrepreço, o que não é verdade. Nunca houve tentativa de corrupção da parte de ninguém”, justificou Neves a VEJA.
A maior parte dos recursos – 836 milhões de reais – está destinada à Organização Social (OS) Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas) para a implementação de 1.400 leitos em hospitais de campanha. Mesmo proibido pela Prefeitura do Rio de participar das licitações no âmbito do município por suspeita de irregularidades, o Iabas teve o aval de Gabriell Neves para prestar o serviço ao governo Witzel. “E de forma satisfatória”, ressaltou Neves, que assinou este contrato em nome do secretário Edmar Santos.