Réu na ação penal que tem entre os acusados o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o engenheiro Paulo Gordilho, ex-funcionário da empreiteira OAS, prestou depoimento nesta quarta-feira ao juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato em primeira instância em Curitiba. Em uma hora e meia diante do magistrado, Gordilho confirmou a versão dada semana passada pelo ex-presidente da OAS José Adelmário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, que afirmou a Moro que havia um tríplex reservado a Lula no condomínio Solaris, no Guarujá.
Gordilho disse ao juiz federal que a informação de que havia um imóvel reservado ao ex-presidente começou a circular entre os executivos da empreiteira em 2011. “Isso todo mundo sabia na OAS. Foi em reunião de diretoria, em 2011, por aí. Uma das pessoas perguntou ‘qual é o apartamento do Lula?’, aí mostraram na caneta laser: ‘é esse aqui’”, relatou o engenheiro.
Segundo Paulo Gordilho, que contou ter participado de uma das visitas da ex-primeira-dama Marisa Letícia ao imóvel, “[o apartamento] estava reservado, mas era tratado como um apartamento comum. Até 2013, foi tratado como um apartamento comum. Tanto que aparece uma foto de uma visita que foi feita por doutor Léo e outras pessoas, isso em fevereiro de 2014, onde ainda aparece o concreto, sem pavimentação”. Para ele, o imóvel é “muito simples, mas tem uma vista esplendorosa”.
O engenheiro explicou a Moro, no entanto, que não foi o responsável pelas obras da reforma no tríplex e que foi convidado por Léo Pinheiro a visitar o imóvel pela proximidade que tinha com o empreiteiro.
Gordilho lembrou que chegou a acompanhar Pinheiro a São Bernardo do Campo (SP), onde vive Lula, para mostrar ao petista e a Marisa Letícia os projetos das cozinhas do imóvel no litoral paulista, e em um churrasco no sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), reformado pela OAS e a Odebrecht a pedido da família Lula da Silva.
“A gente arredondou em um número de 170.000 reais. A OAS me mandou esse dinheiro e eu linkei para a Kitchens [fabricante de cozinhas planejadas], que tinha combinado de ir buscar o dinheiro na OAS empreendimentos”, disse Gordilho a Moro sobre o sítio no interior de São Paulo. Segundo o engenheiro, ele levou o dinheiro pessoalmente à empresa.
De acordo com o Ministério Público Federal, o ex-presidente de recebeu vantagens indevidas de ao menos três contratos bilionários assinados entre a OAS e a Petrobras. As propinas geradas por esses negócios somaram 87,6 milhões de reais. Desse total, 3,7 milhões de reais foram direcionados a Lula, “oriundos do caixa geral de propinas da OAS com o PT”. Para lavar esse dinheiro sujo, segundo os procuradores, a empreiteira bancou a reforma do tríplex destinado à família Lula da Silva.
‘Visita de apresentação’
Também réu nesta ação penal, o ex-presidente da OAS Empreendimentos Fábio Hori Yonamine falou ao juiz Sergio Moro antes de Gordilho.
Yonamine admitiu ter organizado uma “visita de apresentação” do ex-presidente e da ex-primeira-dama ao tríplex do Guarujá, mas disse não saber da entrega do apartamento a Lula.
“Eu nunca recebi a informação ou o pedido de entregar a unidade ao ex-presidente Lula. O único pedido que houve foi que fizesse uma reforma para o ex-presidente. Esse pedido foi feito pelo doutor Léo Pinheiro”, relatou o executivo, para quem Pinheiro não deu maiores explicações sobre o pedido.
Por meio de nota, a defesa do ex-presidente afirma que o depoimento de Gordilho “destoa não apenas das 73 testemunhas que o antecederam nos depoimentos sobre o caso triplex – entre eles funcionários da companhia -, mas também do que afirmou Fábio Yonamine, ex-presidente da mesma OAS Empreendimentos. Gordilho e Yonamini foram ouvidos hoje em Curitiba e também são réus na ação penal.
Subordinado a Leo Pinheiro, Yonamine foi categórico ao dizer que a área financeira da OAS Empreendimentos não tinha conhecimento de reserva de qualquer unidade para o ex-Presidente – que nunca nenhum pedido lhe foi feito por Pinheiro nesse sentido – e que a unidade 164-A sempre integrou o estoque da empresa, ou seja, era e continua sendo um ativo da OAS”.