Em sua edição impressa, VEJA revelou detalhes da proposta de delação premiada de Jacob Barata Filho entregue ao Ministério Público e que envolve, entre outras autoridades, o atual prefeito do Rio de Janeiro, o bispo Marcelo Crivella, do PRB. Em trinta anexos, como são chamados os capítulos que relatam os supostos crimes, o empresário conhecido como o “rei do ônibus” detalha como comprava o poder para alavancar os seus negócios. Crivella, segundo ele, é um “cliente” antigo. Entre 2008 e 2016, o prefeito teria recebido 5,2 milhões de reais de caixa dois para suas campanhas eleitorais.
Após a publicação da reportagem, a assessoria de imprensa de Barata Filho divulgou uma nota contestando as informações. “Acusações de corrupção contra o prefeito Marcelo Crivella e demais autoridades citadas na matéria jamais foram ditas por Jacob Barata Filho a qualquer autoridade pública”, afirma o comunicado. O empresário ainda alega que “nunca se reuniu com autoridades do Ministério Público para tratar de acordo de colaboração premiada” e que todos os depoimentos prestados por ele “são públicos e ocorreram na presença do juízo da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro”.
De fato, Barata Filho jamais “disse” nada ao Ministério Público e “nunca” se reuniu com os procuradores. Suas acusações, incluindo as que envolvem o bispo Crivella, foram escritas – constam nos trinta anexos a que VEJA teve acesso – e entregues por seus advogados. Na nota, Barata Filho tenta apenas confundir.
Marcelo Crivella também se manifestou. Em vídeo publicado nesta segunda-feira, 1º, o prefeito chamou a notícia publicada por VEJA de “fake news” e ainda afirmou que o empresário disse que nem sequer o conhecia. Em sua nota, Barata Filho nunca afirmou isso. Em sua proposta de delação, ele conta que recebeu o pedido de “apoio financeiro” diretamente do bispo. Num trecho do anexo, está escrito o seguinte:
“A combinação sobre o pagamento para fins de custeio de campanha à prefeitura do Rio de Janeiro no ano de 2008 ocorreu em reunião entre Jacob Barata, Jacob Barata Filho, Lélis Teixeira e Marcelo Crivella, no Jardim Oceânico, entre maio e junho de 2008″ (…) “Jacob Barata Filho ajustou o pagamento de 1 milhão de reais com Mauro Macedo. Os valores foram pagos, por meio de recursos em espécie, cabendo a Mauro Macedo recolher tais recursos”.
Mauro Macedo, que também é primo de Edir Macedo, o fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, trabalhou como assessor de Crivella no Senado e como tesoureiro de campanha.
Uma colaboração premiada segue um rito padrão: a negociação é feita entre advogados e procuradores ou delegados. Nessas conversas, são apresentados os chamados “anexos”. Caso se chegue a um acordo, o candidato a colaborador passa a prestar depoimentos oficiais aos investigadores, detalhando cada conteúdo dos capítulos apresentados, e entrega as provas.
A proposta de delação de Barata Filho ainda está em estágio inicial. Por isso, o empresário afirma em sua nota que “nunca se reuniu com autoridades do Ministério Público”. Na verdade, são os advogados que comandam as tratativas. Ao todo, são três bancas diferentes que atuam com o empresário. Uma delas entrou no caso no fim do ano passado para tentar fechar, de vez por todas, o acordo de delação do “rei do ônibus”.
Tanto Crivella quanto Barata Filho vivem problemas políticos e policiais. O empresário foi condenado na semana passada a doze anos de prisão pelo crime de corrupção ativa – e poderá voltar a ser preso se não fechar um acordo com a Justiça. Já o bispo luta para escapar de pedidos de impeachment na Câmara de vereadores.