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Delações agravam situação de Lula em relação a sítio de Atibaia

Engenheiro disse que ajudou a elaborar um contrato falso para esconder a participação da Odebrecht nas obras do imóvel

Por Da redação
Atualizado em 20 abr 2017, 16h12 - Publicado em 20 abr 2017, 12h33
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  • Ao menos cinco delatores da Odebrecht relataram à Procuradoria-Geral da República detalhes sobre a reforma feita em um sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, que investigadores suspeitam ser do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre eles, o patriarca da família, Emílio Odebrecht, disse ter informado Lula sobre o andamento da obra em reunião no Palácio do Planalto. Também delator, o engenheiro Emyr Diniz Costa Júnior afirmou ter comprado um cofre para guardar o dinheiro usado para reformar o imóvel.

    Os depoimentos reforçam as suspeitas da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba de que Lula é o real proprietário do imóvel e as benfeitorias serviram de contrapartida da empreiteira pela atuação do petista em favor do grupo na época em que foi presidente, o que configura propina. Um inquérito aberto há cerca de um ano sobre o caso foi prorrogado em janeiro e está em fase final.

    O principal argumento da defesa de Lula é de que a propriedade não está em seu nome. A defesa admite, porém, que o ex-presidente esteve no imóvel algumas vezes com a família. Para investigadores, o registro em nome de outras pessoas seria uma forma de ocultar patrimônio.

    Em delação, Emílio disse ter relatado a Lula, em reunião no Planalto, em 2010, que as obras no sítio ficariam prontas no mês seguinte. O encontro, segundo ele, ocorreu no fim do ano, próximo do fim do mandato do então presidente.

    Emílio relatou aos procuradores que, no encontro, o petista não teria ficado “surpreso” com a informação. “Eu disse: ‘Olhe, chefe, o senhor vai ter uma surpresa e vamos garantir o prazo que nós tínhamos dado no problema lá do sítio’.” Anotações e e-mails foram entregues pelo delator como forma de comprovar a reunião.

    Um dos principais interlocutores da Odebrecht com Lula, o ex-diretor de Relações Institucionais Alexandrino Alencar, afirmou que o pedido para a reforma no sítio foi feito pela então primeira-dama, Marisa Letícia, que morreu em fevereiro.

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    “Ela me falou sobre um sítio e me perguntou se a companhia poderia ajudá-los a finalizar obras e reformas que estariam atrasadas, porque a equipe que fazia o trabalho estava com desempenho medíocre”, afirmou. Segundo o delator, Marisa disse que ela e o ex-presidente pretendiam frequentar o imóvel a partir de janeiro do ano seguinte.

    ‘Contrapartidas’

    Além dos depoimentos nos quais relata sua relação com Lula, Alexandrino entregou aos procuradores uma relação de nove episódios em que a empreiteira atendeu a pedidos do ex-presidente. Segundo ele, eram “contrapartidas ao apoio e à influência política recebidos ao longo do tempo pelo atendimento das questões de interesse da companhia”. Na lista consta, além do sítio em Atibaia, itens como a construção do estádio do Corinthians, em Itaquera, e uma mesada para Frei Chico, irmão de Lula.

    Alexandrino também afirmou que, em 2011, procurou o advogado Roberto Teixeira, amigo de Lula, para acertar uma maneira de “formalizar” as obras. Na ocasião, segundo o delator, eles combinaram de forjar notas para justificar os gastos na reforma. “Ele estava preocupado, digamos, como é que poderia aparecer essa obra sem um vínculo com os proprietários do sítio”, disse o ex-diretor. Ao todo, segundo ele, a Odebrecht gastou R$ 1 milhão na obra.

    Em depoimentos, o ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht e o ex-diretor da empresa em São Paulo Carlos Armando Paschoal também tratam da obra no sítio.

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    Cofre

    Destacado pela empresa para acompanhar a reforma, o engenheiro Emyr Diniz Costa Júnior disse em delação que ajudou a elaborar um contrato falso para esconder a participação da Odebrecht. Ele afirmou ainda que comprou um cofre para guardar R$ 500 mil repassados, em espécie, pela empreiteira para executar a obra.

    De acordo com o engenheiro, o dinheiro saía do Setor de Operações Estruturadas, o “departamento da propina” da empreiteira. “Eu liguei para ela (secretária do setor) e pedi os R$ 500 mil. Como eu nunca tinha manejado, em uma obra, uma soma dessa natureza, eu comprei um cofre especificamente e coloquei dentro de um armário na minha sala, dentro do meu escritório.”

    Segundo Costa Júnior, o pedido feito pelo então ajudante de ordem da Presidência Rogério Aurélio Pimentel era para construir uma “pequena casa para alojamento dos seguranças do presidente”, “um campo de futebol”, “uma edícula de quatro suítes atrás da casa principal do sítio”, “uma adega para os vinhos de Lula”, além da construção de uma sauna.

    Defesa

    O advogado Cristiano Zanin Martins, que defende o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou nesta quarta-feira, 19, que o sítio não pertence ao seu cliente e que não há qualquer acusação formal sobre o caso. “Com relação às delações da Odebrecht, o que temos sempre respondido é que são declarações unilaterais de pessoas que têm interesse em negociar estas declarações em troca de liberdade ou benefícios”, afirmou o advogado.

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    Em nota, o advogado Roberto Teixeira disse que “jamais propôs, orientou ou executou qualquer ato ilegal” no exercício da advocacia. Segundo ele, o delator admite que o sítio era de Fernando Bittar, seu cliente. “Minha atuação, enquanto seu advogado, era a de formalizar as obras realizadas como condição para que meu cliente fizesse o pagamento do valor devido pelos serviços.”

    (Com Estadão Conteúdo)

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