O treinador argentino César Luis Menotti, “El Flaco”, mudou a história do futebol da seleção da Argentina — e, de um time afeito a botinadas e drama, como num tango, tratou de ensinar o jogo em conjunto, com atacantes rápidos e inteligência tática. Menotti estava no comando da albiceleste na Copa de 1978, jogada em casa diante dos horrores da ditadura, e que foi vencida pela equipe de Mario Kempes, Luque, Fillol e cia. O time era francamente ruim, apenas esforçado — mas movimentava-se com organização. Teve, claro, apoio da torcida, dos péssimos gramados e de um controverso 6 x 0 contra o Peru, resultado que eliminaria o Brasil de Claudio Coutinho. Naquele mundial, é o que contaria o truque da engenharia reversa, Menotti barrou um certo Diego Armando Maradona, de meros 17 anos — jovem demais para um torneio de tanta envergadura. Mas o próprio Menotti levaria Maradona ao Campeonato Mundial sub-20 do ano seguinte, para o primeiro grande título do gênio canhoto. O técnico, sempre muito sincero, admitiria depois arrependimento por ter cortado o camisa 10. Maradona, apesar de tudo, o admirava como pai. “Foi o maior de todos”, disse certa vez. Menotti, enfim, abriu as portas para o bicampeonato de 1986 e o tri de 2022, com Lionel Messi. Ele morreu em 5 de maio, aos 85 anos, em Buenos Aires.
Entre prédios e a TFP
Nos anos 1970, os edifícios neoclássicos da Construtora Adolpho Lindenberg, identificados pelo exagero da construção e pelo logotipo da concha vermelha associado a três letras, “CAL”, dominaram boa parte dos bairros ricos de São Paulo. Morar em um prédio da companhia era sinal de status — e, para muitos, também de mau gosto. O fundador da empresa, o paulistano Adolpho Lindenberg, era homem de imenso tino comercial, mas que não evitaria a derrocada nos anos 1980, em meio a erros de administração e pulos da inflação galopante. Era identificado, também, por um aspecto pérfido de sua personalidade: ajudava com dinheiro a organização Tradição, Família e Propriedade, a TFP, de extrema direita, propagadora de ideias racistas e xenófobas e linha auxiliar do horror promovido pelos porões da ditadura. Lindenberg era primo em primeiro grau do fundador da TFP, Plínio Corrêa de Oliveira (1908-1995). Ele morreu em 2 de maio, aos 99 anos.
O mínimo possível
Uma tela enorme, escura, com linhas equidistantes, traçadas em giz — a série de “pinturas negras”, do americano Frank Stella, o apresentou ao mundo, nos anos 1950, e rompeu com o exagero do expressionismo abstrato e coloridíssimo de nomes como Jackson Pollock (1912-1956) e Mark Rothko (1903-1970). Nascia o minimalismo. Sua ideia era chegar ao mínimo possível. “Pode-se contar uma história com as formas”, disse. Com o tempo, Stella mudaria o tom da prosa. Passou a exibir telas não retangulares, que apontavam mais para o domínio da escultura. As obras começaram a sair da parede, literalmente, a exemplo das esculturas inspiradas no fumo dos charutos cubanos, a partir dos anos 1980. Ele morreu em 4 de maio, aos 87 anos, em Nova York.
Publicado em VEJA de 10 de maio de 2024, edição nº 2892