O que seria de Rocky Balboa sem Apollo Creed? No primeiro longa da série, de 1976 — vencedor de três Oscar, inclusive o de melhor filme — o personagem de Sylvester Stallone desafia o invencível campeão dos pesados, Apollo, de 46 vitórias e 46 nocautes, interpretado por Carl Weathers. Da fama planetária e perene da criação de Stallone, o “garanhão italiano”, não há muito mais a dizer. O extraordinário foi o sucesso do adversário, pensado para ser o homem mau da trama. Dali para a frente, Weathers, que tivera rápida carreira no futebol americano, não parou de crescer.
Fez outros três filmes da franquia. Em Rocky IV — e o spoiler aqui é necessário —, Apollo morre no ringue ao enfrentar o soviético Ivan Drago. Soou inverossímil, mas era um modo de Hollywood acenar para a crise internacional imposta pela Guerra Fria. “Nunca teria conseguido o que fizemos com Rocky sem ele”, disse Stallone. “Sua voz, seu tamanho, seu poder, sua habilidade atlética, mas, mais importante ainda, seu coração, sua alma”. Recentemente, Weathers fez sucesso na televisão em The Mandalorian, derivado de Star Wars. Ele morreu em 1 de fevereiro, aos 76 anos.
O último passarinho
Antes de mais nada convém recitar, como uma poesia, a escalação da seleção que entrou em campo para vencer a Copa do Mundo de 1958, em Estocolmo: Gilmar; Djalma Santos, Bellini, Orlando e Nílton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Pelé, Vavá e Zagallo. Com a morte de Zagallo, no início do mês, não há mais nenhum jogador do escrete brasileiro titular vivo. Do lado da Suécia, atropelada por 5 a 2, apenas o atacante Kurt Hamrin, conhecido como “o passarinho”, sobrevivera ao tempo. Ele morreu em 4 de fevereiro, em Florença, na Itália, aos 89 anos. Hamrin é um dos grandes ídolos da história do Fiorentina, clube pelo qual marcou 203 gols, mais do que qualquer outro atleta.
O desfecho de um ciclo
Formado em engenharia, com mestrado e doutorado em economia na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, o chileno Sebastián Piñera foi o primeiro presidente chileno de direita desde o golpe de Augusto Pinochet, em 1973 — a quem sempre criticou pelo autoritarismo e pela violência.
Governou o país durante dois períodos, entre 2010 e 2014 e entre 2018 e 2022, eleito pelo voto popular. No mais recente mandato, enfrentou maciças manifestações de rua, em 2019, contra o aumento do custo de vida, reprimidas com vigor exagerado. Piñera foi sucedido por Gabriel Boric, de esquerda. Ele morreu em 6 de fevereiro, aos 74 anos, depois de um acidente de helicóptero em Lago Ranco, na região central do Chile. Era ele quem pilotava a aeronave.
Publicado em VEJA de 9 de fevereiro de 2024, edição nº 2879