Ato contínuo à escolha de Raul Jungmann para o Ministério da Segurança Pública, o presidente Michel Temer (MDB) decidiu nomear o general Joaquim Silva e Luna para substituí-lo, como interino e por tempo indeterminado, no comando pasta da Defesa. É a primeira vez desde que o ministério foi criado, em 1999, que um militar vai comandar, mesmo que provisoriamente, a pasta responsável pelas Forças Armadas.
Há 19 anos, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e após meses de negociação foi tomada a decisão política de impor um comando único e civil aos militares, que ganhou forma no Ministério da Defesa. Ao longo de todo esse período, governantes negociaram com generais, almirantes e brigadeiros os melhores nomes para chefiarem a pasta, mas haviam preservado o caráter civil da chefia da pasta.
Não que não tenham ocorridos momentos delicados na relação entre civis e militares. Em 2004, para chegar à solução de um impasse, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a pedir ao vice José Alencar (PRB) que utilizasse o prestígio de seu cargo para acumular as funções e pacificar a Defesa, o que fez durante dois anos.
Para todos os efeitos, Silva e Luna foi nomeado de forma interina por Temer, mas a expectativa é que ele, que era secretário-executivo do ministério, fique no posto até o final do mandato do emedebista em dezembro. A escolha foi defendida fortemente por outro militar, o general Sérgio Etchegoyen, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
“O nome disso é continuidade. Decidiu-se pela continuidade e por quem tem proximidade com o ministro da Segurança Pública para alinhar os esforços, facilitando todas as ligações e contatos para as ações de segurança que vão continuar acontecendo daqui para a frente. Só isso”, disse o ministro do GSI.
Quem também não vê problema é o ex-ministro Aldo Rebelo (PSB), que chefiou a pasta por sete meses durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e nomeou Silva Luna para a secretaria-geral do ministério. Rebelo descreve o general como “muito competente e capacitado”. “O ministério está em boas mãos”, disse a VEJA.
Além de ser um militar em uma função tradicionalmente civil, a escolha do general Luna cria outra situação difícil: as Forças Armadas não atuam de forma unitária e, nessa posição, o ministro interino da Defesa é um integrante do Exército com poder de comando sobre a Aeronáutica e a Marinha. Etchegoyen afasta o risco de “desconforto” entre os braços militares.
“Eu acho que a gente deve subir um pouquinho este debate para um nível mais adequado, porque tudo tem uma razão para colocar a responsabilidade ou a culpa nas Forças Armadas. Qual é o problema das Forças Armadas? É ter prestígio? Seria esse o problema? Honestamente, não vejo isso porque os militares são disciplinados”, argumentou.
Na Marinha e na Aeronáutica, no entanto, há ressalvas à situação. A avaliação de alguns oficiais é de que o ideal seria tanto o cargo de ministro da Defesa quanto o de secretário-geral serem ocupados exclusivamente por civis. Estes mesmos oficiais lembraram que a escolha traz de volta a discussão que existia no antigo Estado-Maior das Forças Armadas, órgão que precedeu o Ministério da Defesa, em que integrantes do Exército tiveram protagonismo em relação a representantes das outras forças.
(Com Estadão Conteúdo)