A mudança no discurso de Bolsonaro em relação à crise sanitária, a aproximação do presidente com a ala militar do governo, o alinhamento de Moro, Mandetta e Guedes, o recorde de casos do novo coronavírus no Brasil e no mundo e como a Austrália agiu para frear a curva de contágios. Esses são os cinco principais assuntos para você começar o seu dia bem-informado.
BOLSONARO MUDA O TOM
Em seu quarto pronunciamento em rede nacional de televisão sobre a crise do coronavírus, Jair Bolsonaro adotou tom conciliador, diferente do que havia feito até então. O presidente pediu união dos três Poderes, falou em “defender vidas”, listou medidas adotadas pela sua gestão, não chamou a doença de “gripezinha” e evitou criticar diretamente o isolamento social, método indicado por autoridades de saúde do Brasil e do mundo para combater a epidemia. O pronunciamento foi novamente acompanhado por “panelaços” registrados em todo o país. A postura adotada por Bolsonaro deve ajudar a apaziguar os conflitos com os governadores, que tomaram para si o protagonismo na luta contra o vírus devido à resistência do presidente em reconhecer a gravidade da doença. As primeiras reações devem acontecer nesta quarta-feira, 1º.
O PRESIDENTE E OS MILITARES
Isolado politicamente por sua postura na crise, Bolsonaro voltou a se aproximar da ala militar de seu governo. O movimento veio após declarações públicas de alguns ministros, como Sergio Moro e Paulo Guedes, além, é claro, de Luiz Henrique Mandetta, em defesa da quarentena — criticada pelo presidente — como forma de prevenção. Esta convergência, inclusive, pode ter tido influência direta na mudança de tom do presidente em seu discurso. A proximidade também se deu justamente no aniversário de 56 anos do golpe militar, que culminou em 21 anos de ditadura no Brasil. O período foi de ruptura institucional e trevas para a democracia, mas o presidente, o vice, Hamilton Mourão, e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, celebraram a data em postagens.
A UNIÃO DOS MINISTROS
Ao autorizar o uso da Força Nacional de Segurança pelo Ministério da Saúde nas ações de combate ao coronavírus, Sergio Moro mostrou estar alinhado a Mandetta e na contramão do chefe Jair Bolsonaro. Ao lado dos dois está Paulo Guedes. O ministro da Economia agradeceu aos demais Poderes, Legislativo e Judiciário, pelo auxílio na gestão da crise, citando a decisão do STF que permite o descumprimento do Orçamento e a aprovação por parte dos deputados e senadores do auxílio emergencial de 600 reais para trabalhadores informais. Com a união dos ministros e a recente mudança de postura do presidente, espera-se agora uma movimentação mais coesa do governo no combate à pandemia.
SALTO NO NÚMERO DE MORTES
O Brasil registrou o maior número de mortes (42) e casos (1.138) por coronavírus em 24 horas desde que a doença passou a ser monitorada no país. Desta forma, as vítimas fatais chegaram a 201 e os diagnósticos confirmados foram a 5.717. O aumento mostra que a curva segue em alta e que o país ainda não chegou ao seu pico da doença. No mundo, a Espanha registrou recorde de mortes pela Covid-19 em um dia: 849. Ainda na Europa, a França ultrapassou a China em número de óbitos, apesar de ser apenas o sexto país com mais casos no mundo. Na Itália, já são mais de 12 mil vítimas fatais, enquanto na Bélgica uma menina de 12 anos morreu com a doença. Do outro lado do Atlântico, os Estados Unidos se aproximam dos 200 mil casos, além de também ter deixado a China para trás em óbitos — agora são mais de 4 mil, número maior do que as baixas causadas pelo atentado de 11 de setembro. A Casa Branca projeta ainda que pode haver de 100 mil a 240 mil mortes no país. Como mais uma medida para tentar frear a curva, Donald Trump disse que estuda proibir viagens do Brasil aos EUA nos próximos dias.
O MÉTODO AUSTRALIANO
Ao contrário do que acontece em grande parte do mundo, a Austrália conseguiu, até agora, reduzir a curva de contágios do novo coronavírus: são atualmente 4.559 casos e 18 mortes. Assim como no Brasil, governadores agiram rápido no país e alguns deles decidiram não acatar a ordem do primeiro-ministro, Scott Morisson, um conservador que foi contrário às recomendações de prevenção feitas pela OMS. O premiê relutou em acatar as ordens de isolamento e só começou a anunciar medidas restritivas quando o vírus começou a se propagar de forma rápida. As ações apresentam resultados e o número diário de novos casos de coronavírus caiu de 30% para 9%, o que indica que o país pode já ter conseguido conter os estragos causados pelo vírus.