O Banco Central só encontrou 15 centavos nas contas do fiscal agropecuário Daniel Gonçalves Filho, preso preventivamente na Operação Carne Fraca sob a suspeita de liderar o grupo criminoso que cobrava propina de empresários para burlar a fiscalização em frigoríficos. A informação consta dos documentos anexados ao processo que corre na 14ª Vara Federal de Curitiba.
Gonçalves foi superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná por aproximadamente sete anos. Deixou o cargo em abril do ano passado ao ser exonerado na gestão da então ministra da Agricultura, Kátia Abreu. Apesar do saldo quase zerado no banco, a Polícia Federal atribui a ele a posse de uma dezena de imóveis e carros de luxo no nome de terceiros com valores de mercado incompatíveis com a sua renda.
O BC teve mais sorte ao vasculhar as contas dos seus familiares que também são acusados de participarem do esquema. A sua mulher, Alice Mitico Nojiri Gonçalves, teve 18.147 reais bloqueados. E o seu filho, Rafael Nojiri Gonçalves, 301.848 reais. Os dois foram alvos de prisão temporária. Conforme o inquérito, Gonçalves comandava um grupo de nove fiscais e mantinha “relações estreitas” com funcionários da BRF e da Seara, controlada pela JBS, duas gigantes do ramo alimentício citadas nas investigações, “fazendo-lhes e deles recebendo favores”.
Na última sexta-feira, o juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal de Curitiba, determinou o bloqueio de até 1 bilhão de reais das contas dos investigados sob o pretexto de “assegurar o ressarcimento do dano causado”.
Dos 37 acusados que tiveram a prisão decretada, dois continuam foragidos — os empresários Nilson Alves Ribeiro e Nilson Umberto Sacchelli Ribeiro, pai e filho. Donos do frigorífico Frigobeto, em Londrina (PR), eles têm passaporte italiano. Na conta deles, o BC capturou a quantia de 1,39 reais.
A defesa de Gonçalves e dos Nilson pai e filho não foram localizadas pela reportagem para comentar as acusações.
Em nota, a BRF afirmou que “cumpre as normas” e tem “rigorosos processos e controles”, “garantindo a qualidade e segurança dos seus produtos”. “A BRF informa que (…) está colaborando com as autoridades para o esclarecimento dos fatos. A companhia reitera que cumpre as normas e regulamentos referentes à produção e comercialização de seus produtos, possui rigorosos processos e controles e não compactua com práticas ilícitas. A BRF assegura a qualidade e a segurança de seus produtos e garante que não há nenhum risco para seus consumidores, seja no Brasil ou nos mais de 150 países em que atua”, diz o texto, na íntegra.
Também em nota, a JBS reiterou que não houve nenhuma medida judicial contra os seus executivos e que sua sede não foi alvo da Operação. Também afirmou que adota “rigorosos padrões de qualidade, com sistemas, processos e controles que garantem a segurança alimentar e a qualidade de seus produtos.
“A ação deflagrada em diversas empresas localizadas em várias regiões do país, ocorreu também em três unidades produtivas da Companhia, sendo duas delas no Paraná e uma em Goiás. Na unidade da Lapa (PR) houve uma medida judicial expedida contra um médico veterinário, funcionário da Companhia, cedido ao Ministério da Agricultura. A JBS e suas subsidiárias atuam em absoluto cumprimento de todas as normas regulatórias em relação à produção e a comercialização de alimentos no país e no exterior e apoia as ações que visam punir o descumprimento de tais normas. A JBS no Brasil e no mundo adota rigorosos padrões de qualidade, com sistemas, processos e controles que garantem a segurança alimentar e a qualidade de seus produtos. A companhia destaca ainda que possui diversas certificações emitidas por reconhecidas entidades em todo o mundo que comprovam as boas práticas adotadas na fabricação de seus produtos. A Companhia repudia veementemente qualquer adoção de práticas relacionadas à adulteração de produtos – seja na produção e/ou comercialização – e se mantém à disposição das autoridades com o melhor interesse em contribuir com o esclarecimento dos fatos”, diz a nota, na íntegra.