O Rio de Janeiro encarnou na última segunda-feira, 23, cenas de um enredo antigo, que escalou em proporção histórica. Em uma ação conjunta, foram queimados 35 ônibus e um trem da Supervia – número nunca atingido em conflitos na cidade. Já na tarde de ontem, deputados bolsonaristas pediam a intervenção federal. Na manhã desta terça-feira, 24, o governador Cláudio Castro se reuniu com o Centro Integrado de Comando e Controle, e com a cúpula da segurança.
“Acompanho de perto o trabalho das nossas forças para que a paz retorne à nossa cidade e a população possa se deslocar com segurança.” Segundo ele, todo o efetivo das polícias civil e militar estão trabalhando para garantir o restabelecimento da ordem. “Não aceitaremos ações de bandidos que incendeiam ônibus e usam a população como escudo. Não daremos um passo só para trás”, disse o governador, em sua rede social.
Três dias depois da troca na secretaria de Polícia Civil, que aconteceu duas semanas depois da posse de José Renato Torres – retirado do cargo por pressão política da Assembleia Legislativa do Rio -, as cenas de ontem foram reflexo de uma operação que resultou na prisão e morte do número 2 de uma das maiores milícias do estado, Matheus Resende, conhecido como Faustão. O novo secretário, Marcus Amim, ligado ao deputado estadual Márco Canella (União) – que já foi fotografado ao lado de milicianos -, se apresenta como um delegado linha-dura, com perfil próximo ao do ex-governador Wilson Witzel, afastado por impeachment.
A milícia nasceu na polícia e vem se associando ao tráfico de drogas em algumas comunidades, em especial na Zona Oeste da capital fluminense. Para Castro, que vive tempestade interna na área de Segurança, torna-se agora imperativo que prospere a ajuda federal. Durante o dia de hoje, o secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Capelli, estará no Rio de Janeiro, para um evento com a Polícia Federal. E o presidente Lula se apressou em colocar à disposição do governador inclusive o Exército – pedido feito por Castro já na semana passada. A crise vivida pelo estado se dá desde o flagrante de uma aula para traficantes, no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, e da execução de três médicos na Barra da Tijuca, na Zona Oeste da capital. A ajuda federal se deu a partir desses fatos. E a relação das forças da União e do estado tende a definir o destino da escalada de violência no Rio.