O comentarista esportivo da Globo, Caio Ribeiro, de 46 anos, anunciou em suas redes sociais no domingo, 3, que está curado do linfoma de Hodgkin, um tipo de câncer contra o qual lutava desde setembro, e agradeceu o apoio que recebeu durante esse período. O ex-jogador, que havia passado por várias sessões de quimioterapia, fará ainda uma radioterapia.
“Pessoal, eu não via a hora de gravar esse vídeo para dizer que acabou. Sexta-feira, eu fiz o exame, fiz o PET Scan, que é um tipo de ressonância, para ver como estava a resposta ao medicamento, à quimioterapia, e não existe mais nenhum linfoma no meu corpo, zerado, não existe mais nenhum risco de o câncer continuar. Sucesso absoluto do tratamento”, comemorou. “Acho que foi sim o maior jogo da minha vida e a gente venceu. Juntos”, escreveu no post.
Na edição desta semana, VEJA traz um depoimento do comentarista sobre o tratamento e a forma como ele e a família encararam a doença. “A primeira coisa que você pensa é nos filhos, que não quer morrer, porque tem muito a viver com eles”, disse.
Leia o depoimento abaixo:
Quando você recebe um diagnóstico de linfoma de Hodgkin, não é uma coisa fácil. Jamais imaginei que isso poderia acontecer. Sempre fiz muita atividade física. Então, é uma pancada na boca do estômago, principalmente porque a falta de conhecimento traz insegurança. A primeira coisa que você pensa é nos filhos, que não quer morrer, porque tem muito a viver com eles. Num primeiro momento só contei ao meu pai e à minha esposa, Renata. Ela chorou. Meu pai é médico, lida melhor com isso, foi forte. Para a minha mãe só contei depois, sabia que ela iria se emocionar mais. Ela saiu correndo, não quis chorar na minha frente.
Eu tinha muita preocupação com os meus filhos — o João, de 10 anos, e a Valentina, de 6. Perguntei ao médico se alguém perceberia se eu não contasse. Ele citou o risco de queda de cabelo, mas que talvez eu pudesse passar pelo tratamento sem dizer a ninguém. Decidi não contar. Não gosto de dar notícias ruins, sou de passar mensagens positivas. Além da minha família, só os meus sócios sabiam, porque estavam ao meu lado quando recebi a informação. Assim foi até que o cabelo começou a cair e tive de passar a me maquiar para esconder as falhas. Aí achei que era hora de informar à Globo. Eles foram nota 1 milhão, deixaram aberto se eu queria ou não fazer um comunicado. Decidi fazer um vídeo o mais tranquilo e transparente possível. Disse ao meu filho que estava tomando um remédio, que a consequência era a queda de cabelo e que eu iria raspar a cabeça. Ele só perguntou se eu teria coragem. Fiz a mesma coisa com a minha filha, mas ela pirou, queria raspar na hora. Eu e meu filho somos muito grudados, jogávamos bola, futmesa, todo dia. A minha esposa assumiu um pouco isso, é uma supercompanheira, está segurando a bronca.
O hospital me informou que tinha uma notícia boa e outra ótima. A boa era que o linfoma de Hodgkin é o mais tratável. E a mais maravilhosa era que estava no começo e só no pescoço. O médico disse que eu precisaria manter a cabeça boa. Então, preparei-me para enfrentar tudo da melhor maneira possível. Tenho uma grande vantagem, que é ser ex-atleta. Você aprende a lidar com frustrações e a conhecer seu corpo. Tenho três cirurgias no joelho, uma operação no nariz… Sempre confiei muito nos médicos. Quando saía qualquer diagnóstico, perguntava o que tinha de fazer. E dizia: “Então vamos começar logo”. Agora, precisei lidar com o mal-estar, a perda de sono e dores. Sempre trabalhei no limiar da dor, faz parte da vida do jogador. Fiz a última quimioterapia na terça 21. Tenho de esperar dez dias para ver se o câncer sumiu.
Nunca imaginei receber tanto carinho, tantas mensagens, tanta gente me colocando em suas orações. As pessoas dizem que também foram diagnosticadas e que o meu vídeo deu força para lidarem com isso. Muitos disseram que começaram a fazer exame de prevenção. Foram mais de 20 000 mensagens, 990 só no WhatsApp. Recebi apoio dos times, das federações, dos jogadores. O Tiago Leifert, que é um irmão, falou: “Cara, você descobriu no início, vai dar tudo certo”. Uns ficaram mudos. Outros ligaram e começaram a chorar. É engraçado, porque acabo tendo de tranquilizá-los: “Pare de chorar, estou ótimo”. Continuar trabalhando foi uma forma de me distrair. Quando me concentro para fazer um programa, um jogo, minha cabeça esquece tudo. A doença faz refletir, ajuda a perceber a importância de equilibrar família, amigos e profissão. Talvez eu tenha ficado mais católico, passei a rezar mais. Quando tudo acabar, quero ir até Aparecida. Não fiz promessas, mas agradecer nunca é demais. O pior já passou. Disso tudo sai um Caio mais forte e agradecido. Sempre fui um cara otimista e estou sendo otimista. Acredito que vou ficar bom.
Caio Ribeiro em depoimento dado a Camila Nascimento
Publicado em VEJA de 6 de outubro de 2021, edição nº 2758