O deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) utilizou a tribuna da Câmara dos Deputados para defender os então presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Alberto Fujimori, do Peru, e para reivindicar a libertação do ex-ditador chileno Augusto Pinochet. Em 1998, ele ainda discursou em defesa do direito de o general paraguaio Lino Oviedo, então condenado por um tribunal militar, ser candidato à Presidência. Para o parlamentar, a prisão de Oviedo, acusado de articular um golpe, tinha o objetivo de “afastá-lo da disputa das eleições presidenciais”. Bolsonaro frisou que o general era líder das pesquisas.
Os elogios a Chávez foram feitos em 5 de agosto de 1999, dois dias depois da instalação da Assembleia Nacional Constituinte que suspenderia o funcionamento do Congresso e modificaria a estrutura da Justiça. Na tribuna, Bolsonaro leu duas cartas de leitores publicadas no jornal O Globo. Uma delas enaltecia as mudanças no Legislativo e no Judiciário da Venezuela, já que o povo não suportava mais “a omissão, a ineficiência e a corrupção que grassa nesses dois poderes”. Outro leitor escreveu que o então presidente Fernando Henrique Cardoso deveria “moralizar o país com mão de ferro antes que o povo resolva fazê-lo pela força”.
A primeira citação a Fujimori foi feita em fevereiro de 1996 — Bolsonaro criticou os então presidentes do Congresso Nacional, José Sarney, e do Supremo Tribunal Federal, Sepúlveda Pertence, que não receberam o peruano em sua visita ao Brasil. Quatro anos antes, ele aplicara um autogolpe e fechara o Congresso e a Suprema Corte de seu país. O hoje candidato à presidência, disse lamentar a decisão de Sarney e Pertence. Afirmou que Fujimori era um homem digno, que estava fazendo um excelente governo.
O deputado também elogiou a implantação, pelo peruano, de um programa de planejamento familiar que incluía o incentivo à laqueadura de trompas e à vasectomia — a adoção das duas medidas foram temas de diversos discursos do deputado na Câmara. Acusado de responsabilidade na esterilização forçada de 236.000 mulheres e de participação em massacres de opositores, Fujimori também seria responsabilizado por corrupção. Ele seria derrubado em 2000, dez anos depois de chegar à Presidência. Preso, o ex-ditador chegou a receber um indulto no ano passado, mas a decisão foi anulada pela Justiça.
A solidariedade a Pinochet foi manifestada em 1998, dias depois de governo britânico prender o chileno por ordem do juiz espanhol Baltazar Garzón. Na tribuna, Bolsonaro questionou o que seria pior para um povo: “O que o general Pinochet talvez tenha feito no passado, exterminando, matando baderneiros, ou a democracia no país, que hoje mata milhões pelo descaso?”. Relatório divulgado em 2011 aponta que, durante a ditadura chilena (1973-1990), 40.000 pessoas foram torturadas ou assassinadas — o número inclui os desaparecidos. O deputado anunciou que enviara um fax a Tony Blair, então primeiro-ministro britânico, pedindo a libertação do ex-presidente. Em 2018, a Justiça chilena concluiu que Pinochet desviara 17 milhões de dólares de recursos públicos, cerca de 60 milhões de reais.
Também no campo internacional, Bolsonaro defendeu a deposição, em 1999, do presidente hondurenho Manuel Zelaya. O deputado criticou aqueles que classificavam a medida de golpe — uma semana antes do discurso, a Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) condenara a derrubada do presidente. O presidenciável foi um dos 86 parlamentares que, em 2013, votaram contra a moção da Câmara dos Deputados que repudiava a espionagem de brasileiros feita por agências do governo americano. Bolsonaro classificou a proposta de “um pouco precipitada” e defendeu os Estados Unidos. Para ele, o requerimento, que seria aprovado com 292 votos, visava apenas “atingir um país que é motivo de orgulho para quem tem vergonha na cara”.