O Carnaval do Rio, cujo início oficial foi em 12 de janeiro, um domingo, neste ano começou com jeito de Quarta-Feira de Cinzas. Explica-se: em gesto de cuidado com o humor dos cariocas, que zelam carinhosamente pela festa, apesar de algumas vozes na contramão, o prefeito Marcelo Crivella decidiu antecipar o início dos dias de momo para janeiro, enxergando vantagens econômicas para o comércio e o turismo. A estrela inaugural, o Bloco da Favorita, atraiu cerca de 300 000 foliões para Copacabana, no domingo 12. Começou com tanto riso e tanta alegria, terminou em choro e desespero. Em torno das 20 horas, um corre-corre com direito a bombas de gás lacrimogêneo resultou em cenas terríveis, desmaios e brigas, além de destruição parcial de uma estação de metrô e de carros da guarda municipal. A assessoria de imprensa da prefeitura atribuiu o caos a um grupo de pessoas que tentava impedir a liberação da Avenida Atlântica, logo depois do fim dos festejos. Crivella, pressionado, reagiu e proibiu, a partir de agora, a presença de dois blocos grandes em um mesmo dia no asfalto dos bairros da Zona Sul. A polêmica deve continuar. Para Rita Fernandes, presidente de um bloco tradicional, o Sebastiana, há fricção entre o velho e o novo. “O que não podemos deixar é que o trabalho que fazemos seja contaminado pela falta de cuidado da prefeitura com o Carnaval da cidade. Estão descaracterizando a festa. Não dá para um bloco de show de artista virar sinônimo do Carnaval de rua”, disse Rita. Ela tem razão.
Publicado em VEJA de 22 de janeiro de 2020, edição nº 2670