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Avião com ex-senador boliviano asilado no Brasil cai em Goiás

Ele se tornou conhecido no Brasil em 2012, quando foi acusado por Evo Morales de irregularidades; ele foi levado em estado grave a um hospital de Brasília

Por Da Redação Atualizado em 12 ago 2017, 22h49 - Publicado em 12 ago 2017, 21h56
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  • Um avião de pequeno porte caiu no início da noite deste sábado, 12, no aeroclube de Luziânia, cidade goiana no entorno do Distrito Federal, a cerca de 200 quilômetros de Goiânia. A aeronave prefixo PU-MON ficou destruída e o piloto, Roger Pinto Molina, de 58 anos, único ocupante, saiu gravemente ferido. Molina foi senador na Bolívia pelo Plano de Progresso para a Bolívia – Convergência Nacional, partido de extrema direita.

    Em entrevista a VEJA no começo do ano, Molina afirmou que aceitou o fato de que o Brasil passaria a ser o seu novo país e foi em busca de um emprego. “Tirei brevê e iniciei uma nova carreira. Eu, que já pilotava ultraleve, descobri na aviação o meu prazer e o meu sustento”, disse.

    Ele se tornou conhecido no Brasil em 2012 quando, acusado no governo Evo Morales por irregularidades como dano econômico ao Estado, estimados na época em US$ 1,7 milhão, em mais de 20 processos, se refugiou na embaixada do Brasil em La Paz. Conseguiu asilo no Brasil no ano seguinte sob alegação de perseguição política. Sua fuga para o Brasil, transportado de carro pela fronteira boliviana em Corumbá, no Mato Grosso do Sul, causou dissabores ao governo brasileiro e levou à demissão do então ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota.

    O ex-senador também foi lembrado em 2016, dessa vez por conta do acidente com o avião da Chapecoense, na Colômbia, por ser sogro do piloto da aeronave, Miguel Quiroga. A tragédia abalou ainda mais a instável rotina do ex-senador no Brasil. Ao deixar a Bolívia, Molina considera ter perdido quase tudo e ainda superava novas adversidades a todo momento. “Estava tudo pronto, por exemplo, para minha esposa vir morar comigo em Brasília. Não vivo com ela desde o refúgio na embaixada. Mas a tragédia da Chapecoense adiou nossos planos”, afirmou.

    Queda

    O avião com Molina tinha parado no aeroclube de Luziânia para um rápido abastecimento. Assim que a operação terminou, a aeronave decolou, mas caiu próximo da pista. O Corpo de Bombeiros de Luziânia prestou socorro ao piloto, que ficou preso às ferragens. Ele foi removido com várias lesões e transportado de helicóptero para o Hospital de Base de Brasília e o quadro geral do seu estado de saúde é muito grave.

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    Leia depoimento dado por Roger Pinto Molina a VEJA em fevereiro de 2017:

    “Nenhum exilado é feliz”

    Roger Pinto Molina, 56 anos, ex-senador boliviano que vive no Brasil

    Quando me refugiei na Embaixada do Brasil em La Paz, em 28 de maio de 2012, tinha a convicção de que sairia dela em poucos dias. Eu havia desafiado o presidente Evo Morales ao denunciar a ação de corruptos em seu governo, mas acreditava que estaria protegido pela minha condição de senador. Depois de uma semana, comecei a perceber que minha situação se tornara irreversível. Em pouco tempo, já estava psicologicamente destruído. A solidão é dura e degrada qualquer um. Durante os 453 dias que passei na embaixada, pensei muitas vezes em me entregar. Recebia recados de apoiadores do presidente que diziam que eles pretendiam queimar meus familiares vivos. Qualquer pai e avô conhece o significado de uma ameaça dessas. Eu sabia que eles seriam capazes de cometer esse tipo de atrocidade.

    Nunca perdi a esperança de voltar a ser livre. Apesar disso, quando o diplomata brasileiro Eduardo Saboia me sugeriu fugir secretamente para o Brasil, tive medo. Era um salto no escuro que poderia resultar na minha morte. Na manhã do dia em que partimos, olhei para tudo o que eu tinha. Minha cama, minha escrivaninha. A embaixada era minha casa. Eu já havia me acostumado e, por um instante, não quis deixar aquele ambiente para trás. Quando entramos no Brasil, já quase sem combustível no tanque do carro, depois de viajar por cerca de 1 600 quilômetros, senti uma emoção profunda. Eu estava livre. Encontrei do lado de cá da fronteira uma solidariedade indescritível. Fiz amigos entre a classe política que hoje considero membros de minha família. Logo que cheguei, o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) me levou para Brasília e me ofereceu abrigo. Passei quase seis meses no apartamento do senador Sérgio Petecão (PSD-AC), que me cedeu um quarto, onde vivi como se fosse minha casa. Apesar de toda a ajuda, engana-se quem acha que tive uma vida fácil desde então. Nenhum exilado está feliz longe de sua pátria. Todos os dias sonho em voltar para a Bolívia, meu país e meu lar verdadeiros.

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    Por mais que meus novos amigos se esforçassem para me acolher, sempre me sentia só. Brasília não era a minha cidade. Eu ficava a maior parte do tempo trancado na quitinete que me fora cedida. Mas, em vez de me deixar consumir mais uma vez pela solidão, usei esse tempo de reflexão para me convencer de que não podia permitir que os corruptos de meu país continuassem a me fazer mal. Encarei o fato de que o Brasil passaria a ser o meu novo país e fui procurar um emprego. Tirei brevê e iniciei uma nova carreira. Eu, que já pilotava ultraleve, descobri na aviação o meu prazer e o meu sustento. Hoje, presto serviços como piloto particular em várias partes do Brasil. Já fiz até voos panorâmicos no litoral de São Paulo. Muitas vezes transporto pessoas que nem sequer sabem da história de perseguição que sofri nem do incidente diplomático que disso resultou.

    Reconstruir minha vida é mais que uma vitória pessoal. Tento mandar a seguinte mensagem de resiliência a todos os perseguidos políticos: “Evo não me destruiu”. Quero que eles saibam que também podem superar as dificuldades de estar na oposição. Obviamente, ninguém sai ileso da perseguição estatal. Perdi quase tudo, e a todo momento preciso vencer novas adversidades. Estava tudo pronto, por exemplo, para minha esposa vir morar comigo em Brasília. Não vivo com ela sob o mesmo teto desde o refúgio na embaixada, há quase cinco anos. Mas a tragédia da Chapecoense adiou nossos planos. No acidente, morreu o meu genro Miki (Miguel Quiroga), que pilotava o avião da LaMia que levava a equipe da Chapecoense. Minha filha e meus três netos vivem no Acre, e minha mulher vai morar com eles. Eu permanecerei em Brasília, para sustentá-los com meu trabalho. Quando fiquei confinado em La Paz, Miki cuidou da minha família. Agora tenho de preencher o vazio deixado por ele.

    Depoimento colhido por Leonardo Coutinho

    (com Estadão Conteúdo)

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