Preso na manhã desta terça-feira, 10, em uma operação do Ministério Público do Rio de Janeiro, o delegado Marcos Cipriano tinha estreitas ligações com o vereador cassado Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho. A proximidade entre o policial e o réu pelo assassinato do enteado Henry Borel, na madrugada de 8 de março de 2021, ficou evidente na análise de dois aparelhos celulares do ex-parlamentar apreendidos pela Polícia Civil fluminense no ano passado, material ao qual VEJA teve acesso com exclusividade.
Delegado é preso em operação contra máfia de bicheiro e Ronnie Lessa
Jairinho e Cipriano, acusado de integrar a máfia do bingo na capital fluminense comandada pelo bicheiro Rogério de Andrade e o PM reformado Ronnie Lessa (preso sob acusação de ter executado a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, em 2018), só se tratavam como “irmãos”. Mesmo com o apagamento de mensagens em massa nos dias que sucederam à morte do menino Henry – cuja mãe, a professora Monique Medeiros, também é réu por assassinato e tortura – ficou claro que o delegado era um de seus interlocutores mais frequentes. Três horas após a morte da criança ser oficialmente declarada, o ex-vereador já o procurou.
Nos dez dias seguintes à morte de Henry, Jairinho ainda acionou o “irmão” 42 vezes. Em uma das mensagens de WhatsApp não deletadas, Cipriano enfatiza que o vereador vá atrás de um certo policial com acesso aos investigadores do caso. Em junho, quando reportagem de VEJA teve acesso ao material, o delegado foi procurado para falar sobre sua proximidade com o ex-parlamentar, mas se limitou a dizer: “Não tenho interesse”. Após a morte do enteado, Jairinho também fez contato com o governador do Rio, Claudio Castro, que teria dito a ele que a delegacia responsável cuidaria do caso, encerrando a ligação.
R$ 2 milhões em casa: delegada ligada a bicheiro e Lessa ostentava luxo
Com bom trânsito no Palácio Guanabara, Cipriano estava licenciado da Policia Civil, mas agora atuava como conselheiro da Agência Reguladora de Energia e Saneamento do Rio (Agenersa). Seu poder junto a autoridades fluminenses ficou ainda mais claro na operação de hoje, que cumpriu 24 mandados de prisão. De acordo com promotores do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o delegado estava de posse de seu próprio mandado de prisão, expedido pela Justiça, no momento em que os agentes chegaram a sua casa. O que significa que a operação vazou.
Ligações perigosas: as revelações inéditas dos celulares de Dr. Jairinho
Cipriano é apontado como o delegado que falava diretamente com Ronnie Lessa – hoje preso em uma penitenciária de segurança máxima. Ele, segundo as investigações, cooptaria policiais civis, como a delegada Adriana Belém, ex-titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), em 2018, para atender aos interesses do grupo mafioso de jogos de azar, com a liberação de máquinas de bingo. Belém também foi presa nesta terça-feira na Operação Calígula. Na casa da delegada, que ostentava uma vida de luxo nas redes sociais, os policiais encontraram cerca de 2 milhões de reais em espécie.
Após a publicação da matéria, a defesa do ex-vereador enviou esta nota assinada pelos advogados Cláudio Dalledone e Flávia Fróes:
“A defesa do médico e ex-vereador Dr Jairinho informa que como parlamentar ele teve contato com centenas de pessoas dos mais diferentes setores da sociedade. E que repudia qualquer tentativa de envolver Dr Jairinho com a operação deflagrada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro“.