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Anderson Torres: “Que se faça uma acareação”

Em entrevista a VEJA, ele repete que nunca participou de nenhum plano golpista e desafia os ex-comandantes militares.

Por Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 27 jul 2024, 08h00
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  • Ex-ministro da Justiça, Anderson Torres é investigado ao lado de Jair Bolsonaro como uma das autoridades responsáveis por articular um golpe de Estado para reverter as eleições que deram vitória a Lula na disputa presidencial de 2022. Preso por quatro meses por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, autoridade sobre a qual o ex-ministro não fala em hipótese nenhuma, Torres é investigado pela Polícia Federal como mentor intelectual da suposta tentativa de golpe para manter Jair Bolsonaro no poder após a derrota do então presidente em 2022.

    Ao ex-chefe da Justiça é atribuída a notória minuta da sublevação frustrada, na qual instruções para a prisão de autoridades e ministros do Supremo eram dadas. Na edição de VEJA que chega às bancas e platafaformas digitais, Luciano Bivar, mandachuva do antigo PSL e do atual União Brasil, afirma que Torres apresentou o texto golpista para uma avaliação prévia de dirigentes do União Brasil. Na primeira entrevista desde que foi preso, o ex-ministro nega a conspiração e apresenta sua versão. Veja a seguir seus principais pontos.

    Qual percepção o senhor tem hoje sobre o dia 8 de janeiro? O que vimos foi uma falha grave na execução do protocolo de segurança. Acredito que muitos daqueles que se manifestavam naquele fatídico dia sequer imaginavam que o movimento pudesse descambar para violência.

    O senhor fala em falha, mas as investigações apontam para uma tentativa de golpe de Estado. Me pergunto se haveria ameaça real de golpe com uma turba descontrolada, sem qualquer armamento e comando. Golpe seria uma tragédia para a nação brasileira. Jamais compactuaria com nenhuma iniciativa nesse sentido e tampouco me omitiria diante de uma ameaça dessas. O que aconteceu foi uma baderna.

    A minuta encontrada na casa do senhor não é uma prova de sua atuação no plano de ruptura institucional? Essa minuta vinha sendo distribuída para várias autoridades, muitas delas inclusive declararam isso publicamente. Era um documento que circulava na internet e que qualquer pessoa com o mínimo de capacidade intelectual saberia ser imprestável para qualquer coisa. Isso servir como prova é muito frágil, não acha?

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    Os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica acusaram o senhor de dar suporte jurídico para a elaboração do plano golpista. Eles estavam acuados e falariam qualquer coisa para não serem implicados. Nunca participei de nenhuma reunião com os comandantes militares para tratar desse tipo de assunto. Já pedimos a quebra do sinal da torre de telefonia para ver se em algum momento eu estive reunido com os militares e o ex-­presidente. Que se faça uma acareação para que a verdade venha à tona.

    Como delegado de polícia, o que faria diferente se fosse encarregado de investigar esse caso? Me ateria às provas, buscaria sanar as contradições, não me curvaria a qualquer pressão política. Agir técnica e imparcialmente é fundamental em qualquer investigação. Jamais buscaria encaixar os fatos dentro de uma narrativa preconcebida.

    O senhor está sugerindo que as investigações são manipuladas? Durante os meus vinte anos de carreira e até meu último dia como ministro da Justiça, o que posso garantir é que a Polícia Federal sempre foi uma instituição de Estado, nunca foi usada com motivação política. Esse período está sendo muito doloroso para mim. Vivo um dia de cada vez.

    Publicado em VEJA de 26 de julho de 2024, edição nº 2903

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