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Advogado ligado a Flávio Bolsonaro é alvo de processo de cassação na OAB

Luis Gustavo Botto Maia aparece como suspeito de destruir provas no caso das 'rachadinhas' que envolve senador e de ajudar na fuga de Queiroz

Por Cássio Bruno Atualizado em 1 jul 2020, 14h11 - Publicado em 1 jul 2020, 13h59
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  • A Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Rio de Janeiro (OAB-RJ), abriu um processo ético-disciplinar contra o advogado Luis Gustavo Botto Maia, ligado ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Segundo o Ministério Público, Botto Maia tentou enganar promotores e a Justiça no esquema da “rachadinha” envolvendo o parlamentar e o ex-assessor Fabrício Queiroz, que está preso. A denúncia do MP, de 80 páginas, afirma que Botto Maia “extrapolou todos os limites do exercício da advocacia” e passou a atuar “de forma criminosa” na obstrução e destruição de provas. VEJA apurou que, caso seja reconhecida alguma infração ao Código de Ética da entidade, ele pode perder a carteira da Ordem e o direito de advogar.

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    A OAB-RJ ainda vai notificar Luis Gustavo Botto Maia. Feito isso, o advogado terá direito à defesa. Ele estava nomeado no gabinete do deputado estadual bolsonarista Renato Zaca (sem partido), na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), mas foi exonerado após ser alvo de busca e apreensão na Operação Anjo, que prendeu Fabrício Queiroz. Botto Maia também trabalhou na liderança do PSL na Casa até o partido romper com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Procurado por VEJA, o advogado não foi encontrado.

    “Depois de receber as ordens e instruções do Dr. Luis Gustavo Botto Maia, de Alessandra Esteves Marins e de Fabrício José Carlos de Queiroz nos dias anteriores, a ex-assessora Luiza Paes Souza, finalmente, compareceu à Alerj no dia 24 de janeiro de 2019, onde se encontrou com o servidor Matheus Azeredo Coutinho e efetivamente adulteram as provas dos crimes de peculato ao inserirem informações falsas em documentos públicos, assinando retroativamente os registros de pontos relativos ao ano de 2017, com a clara finalidade de embaraçar as investigações acerca da organização criminosa que desviava recursos públicos pelo esquema das rachadinhas com atuação de funcionários fantasmas”, escreveram os promotores na denúncia ao juiz da 27ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), Flávio Itabaiana Nicolau.

    Alessandra Esteves Marins está lotada atualmente no gabinete de Flávio Bolsonaro no Senado. Antes, ela trabalhou com Flávio na Alerj. Em maio do ano passado, a Justiça quebrou o sigilo financeiro dela. Alessandra também foi alvo de busca e apreensão na Operação Anjo. Assim como Matheus Azeredo Coutinho, ex-auxiliar do Departamento de Legislação, ligado à Diretoria de Recursos Humanos da Assembleia. Entre as funções dos comissionados deste departamento está atualizar os cadastros dos parlamentares e dos servidores ativos e inativos. Matheus também foi exonerado.

    “Luis Gustavo Botto Maia colaborou de forma decisiva para embaraçar a investigação penal, pois, ao ser avisado sobre a existência das folhas de ponto em branco que poderiam comprovar a atuação de funcionários fantasmas na organização criminosa, forneceu o contato telefônico de Luiza Souza Paes e Matheus Azeredo Coutinho e ainda trocou mensagens de texto e áudio com a servidora fantasma para aplacar o temor de se tratar de algo perigoso, induzindo-a a encontrar o servidor do Departamento de Legislação de Pessoal para juntos adulterarem os documentos públicos”, afirma o MP.

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    Fuga de Queiroz

    Os tentáculos de Luis Gustavo Botto Maia vão além. De acordo com o MP, o advogado participou do planejamento de fuga de Fabrício Queiroz e da família dele em dezembro de 2019. Os promotores encontraram mensagens sobre o assunto nos celulares de Queiroz e de sua esposa Márcia Aguiar, que ainda está foragida até o fechamento desta reportagem. À época, eles teriam a ajuda de Adriano da Nóbrega, ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio) e apontado como líder de um grupo de milicianos. A trama incluiu Raimunda Magalhães Veras, mãe de Adriano, morto em uma operação da polícia da Bahia, em fevereiro deste ano. Raimunda e a ex-mulher do miliciano Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega já foram nomeadas no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj. Luis Gustavo Botto Maia foi o responsável pelas contas eleitorais da campanha de Flávio Bolsonaro ao Senado, em 2018, e também do PSL.

    Queiroz foi preso em Atibaia, no interior de São Paulo. Ele estava em um imóvel que funcionava como escritório de advocacia de Frederick Wassef, ligado à família Bolsonaro. A Operação Anjo é uma referência a Wassef já que seu apelido é “Anjo”. Na denúncia, os promotores dizem ter indícios de que Botto Maia se reuniu com Wassef e Queiroz no esconderijo em Atibaia. A força-tarefa do MP afirma ainda ter “provas robustas e consistentes” para pelo menos três crimes: peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. No organograma do grupo, Queiroz é apontado como operador financeiro de um esquema liderado pelo senador Flávio Bolsonaro. Na ação, foram apreendidos de Botto Maia telefones celulares, computadores e documentos comprobatórios de adulteração de provas e de intimidação de testemunhas. O advogado está proibido de ter contato com pessoas envolvidas na investigação.

    Irmão nomeado no governo Witzel

    O Corpo de Bombeiros foi o elo para Luis Gustavo Botto Maia se conhecerem, em 2011, durante uma greve da corporação. Um dos líderes do movimento, o SOS Bombeiros, tinha na liderança então capitão Lauro Botto, irmão de Luis Gustavo. Atualmente, Lauro é tenente-coronel da corporação e assessor especial na Secretaria estadual de Defesa Civil da gestão Wilson Witzel (PSC), conforme apurou VEJA. Lauro é braço-direito de Roberto Robadey Júnior, que comanda a pasta e também os Bombeiros. “Lauro Botto é um oficial exemplar que possui o perfil para desempenhar a função de assessor especial”, afirmou Robadey em nota.

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    Em 2010, Lauro Botto foi candidato a deputado federal pelo PV. Em 2014, ele concorreu ao mesmo cargo pelo PHS. Perdeu nas duas tentativas. Entre 2012 e 2013, Lauro comandou os quartéis do Corpo de Bombeiros do Grajaú e de Ramos. No ano seguinte, atuou como coordenador de Operações da Defesa Civil e, depois, responsável pela coordenação do sistema de alerta em favelas no Centro de Operações Rio (COR) da prefeitura. Na greve dos Bombeiros por melhores salários, Lauro chegou a ser preso e teve a ajuda de Flávio Bolsonaro, então deputado estadual, para deixar a cadeia. Lauro não retornou os contatos de VEJA.

    A família Botto Maia foi homenageada algumas vezes. Luis Gustavo, por exemplo, recebeu a medalha “Avante Bombeiro” exatamente das mãos de Roberto Robadey Júnior. A honraria é dada para quem tenha “ações que geraram benefícios consideráveis” ao Corpo de Bombeiros. Em 2016, Lauro Botto ganhou a medalha Pedro Ernesto do vereador Alexandre Isquierdo (DEM), com o apoio de também vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), irmão de Flávio e um dos filhos do do presidente Jair Bolsonaro. Em 2018, Lauro conseguiu a medalha Tiradentes por meio do deputado estadual Gustavo Tutuca (MDB).  

    Fracasso nos negócios

    Luis Gustavo Botto Maia já foi um dos sócios do Grupo Trio Produções e Eventos Ltda. A empresa organizava, principalmente, festas de formaturas. Mas não deu certo. O negócio começou com Luis Gustavo e seus amigos de escola Paulo Roberto Veltri Filho e Daniel Sardão Mathias. Na Receita Federal, ela aparece como “inapta”, quando há omissão na entrega de documentos. “Nunca faturamos nada com a empresa. Ela não existe mais”, afirmou Daniel a VEJA.

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    A Operação Anjo caiu como uma bomba entre pelo menos 20 amigos de Luis Gustavo Botto Maia. Eles querem ajudar o advogado, mas perderam o contato com ele desde quando o telefone celular foi apreendido na ação do Ministério Público. “Foi um baque para todos nós. Esperamos que não tenha nada de concreto contra ele e sejam apenas especulações”, disse Daniel Sardão Mathias.

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