O Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil (CIMEB) divulgou, nesta segunda-feira, 19, nota em que repudia a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Israel, pelo conflito com o Hamas. Ele também foi alvo de repúdio formal das bancadas evangélicas da Câmara e do Senado. Neste domingo, o mandatário comparou a ação do estado israelense contra o povo palestino com o Holocausto. Para os líderes religiosos que assinam o documento da CIMEB — entre eles Silas Malafaia e Estevam Hernandes — a fala de Lula “envergonha o Brasil diante das nações do mundo”. Os congressistas, por sua vez, adotaram tom mais brando e classificaram as palavras como “mal colocadas” e “desequilibradas”, mas disseram “provocar conflito ideológico desnecessário”.
“Nunca na história das nações democráticas vimos um presidente ou primeiro-ministro declarar tal absurdo, ao comparar o massacre cruel de mais de 6 milhões de judeus inocentes com qualquer guerra no mundo”, diz trecho da nota do conselho, que reúne mais de 10 mil pastores de diferentes denominações evangélicas. “O que não podemos perder em mente é que Israel é uma nação soberana, que tem direito a autodefesa, segundo as leis internacionais, por ter sido atacada em seu território pelo grupo de terroristas Hamas. Não somos a favor de guerra nem da morte de nenhum inocente, mas até agora não há uma prova de que Israel cometeu genocídio”, prossegue.
Além de Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e Hernandes, fundador da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, assinam o documento ainda o pastor César Augusto, da Igreja Apostólica Fonte da Vida, Renê Terra Nova, do Ministério Internacional da Restauração, Abe Huber, da Paz Church, Victor Hugo, da Ives Church, Galdino Júnior, também de uma vertente da Assembleia de Deus, e Luiz Hermínio, fundador da Igreja MEVAM — todos ligados ao neopentecostalismo, vertente mais conservadora entre os evangélicos.
Já a nota dos congressistas afirma que “comparar os ataques de Israel ao Hamas com o nazismo que vitimou 6 milhões de judeus indefesos é provocar um conflito ideológico desnecessário; com a ressalva do respeito às pessoas que inocentemente morrem, Israel, ao contrário de Hitler, está exercendo o seu direito de sobreviver diante de um grupo com o objetivo de eliminar os judeus; outrossim, não é justo exigir que uma nação se mantenha passiva diante de um ataque covarde que estupra e mata, jovens, idosos e crianças das formas mais horríveis, e continua com a política de se esconder atrás de reféns (civis inocentes)”.
A Frente Parlamentar Evangélica diz ainda que “respeita a Presidência da República”, mas entende que “verbalizações desequilibradas, além de não representarem o pensamento da maioria dos brasileiros, comprometem a política internacional de forma desnecessária”.
A fala de Lula
No domingo, o presidente declarou que “o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe um nenhum outro momento histórico”. “Aliás, existiu, quando Hitler resolveu matar os judeus”, complementou, em entrevista a jornalistas durante visita à Etiópia. A manifestação gerou revolta no governo israelense, que declarou Lula persona non grata no país. Em resposta, Lula decidiu chamar de volta a Brasília o embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer.
As manifestações representam mais um símbolo do desafio que o petista tem enfrentado para reduzir sua rejeição entre os evangélicos. Próximos do presidente no passado, líderes como Malafaia e os parlamentares da bancada no Congresso aumentaram ainda mais sua influência durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o que levou também a uma maior oposição a Lula. Agora, com acenos fiscais e com membros do governo federal dispostos a trabalhar para isso, o chefe do Planalto tenta melhorar seu desempenho nesse segmento da população, embora ainda esbarre em posicionamentos como esse, que vão de encontro a posições caras aos religiosos.