O presidente do IBGE, Marcio Pochmann, despertou a ira dos servidores do órgão ao criar uma fundação de direito privado, a IBGE+. A nova autarquia foi mantida sob sigilo durante nove meses e só veio a se tornar pública depois da publicação de seu estatuto, no primeiro ofício de notas do Rio de Janeiro. O vazamento da informação causou um pandemônio no Instituto, já que a iniciativa é vista como a criação de um IBGE paralelo, sem que suas definições estejam totalmente claras no documento de seu lançamento.
A descoberta motivou uma manifestação da ASSIBGE, sindicato da categoria de servidores, que está marcada para a próxima quinta-feira, 26, na sede do órgão no centro do Rio. “O ato exigirá que o presidente do IBGE, Márcio Pochmann, altere o comportamento autoritário que tem marcado suas ações recentes e estabeleça um real processo de diálogo com os servidores em relação às diversas alterações em curso no Instituto”, diz a mensagem de convocação dos servidores.
Embora seja uma entidade de direito privado, a IBGE+ será subordinada ao Governo Federal e o caberá ao IBGE fornecer apoio administrativo para o início de suas atividades. No estatuto fica claro que a nova autarquia terá responsabilidades que hoje cabem ao próprio IBGE, como instaurar e gerir o núcleo de inovação tecnológica, dar apoio à pesquisa estatística e geográfica, criar premiações, capacitar os quadros técnico e cuidar do museu do Instituto, entre outras atribuições.
Em se tratando de uma fundação de direto privado, no entanto, a IBGE+ poderá contratar funcionários por CLT, fora do regime de servidores públicos e não precisa seguir a mesma política de remuneração dos funcionários que gozam de estabilidade no cargo e regime próprio de trabalho. Os quadros contactados por VEJA temem que a empresa possa substituir a mão de obra do órgão e ficaram extremamente incomodados de ver uma iniciativa como essa partir de Pochmann, que é do PT.
A ASSIBGE também se preocupa com mudanças no estatuto do IBGE que o presidente já anunciou que pretende fazer, sem ter deixado claro quais são. Ainda há rumores de uma possível mudança da sede do órgão, do centro do Rio para a região do Horto Florestal, um lugar afastado, no meio da floresta da Tijuca.
Um abaixo-assinado circulou na tarde dessa sexta-feira, 20, pedindo a saída de Pochmann. O documento, um formulário no Google, no entanto, era apócrifo – não permitia saber quem era o autor e nem quem havia manifestado apoio por meio de sua assinatura digital. Após algumas horas, foi retirado do ar.
O sindicato da categoria chegou a levar um ofício para pedir audiências com Pochmann, e tentou contactá-lo por meios informais, mas os pedidos foram ignorados. “A postura do presidente destoa com o que ele dizia que ia fazer em sua gestão. O sindicato tem muita preocupação em relação a essas medidas, porque elas têm ocorrido sem nenhuma transparência”, diz Bruno Perez, coordenador da ASSIBGE.