MPF denuncia assessor de Bolsonaro por gesto racista em sessão do Senado
Filipe Martins é assessor para assuntos internacionais do presidente
O Ministério Público Federal denunciou Filipe Martins, assessor do presidente Jair Bolsonaro para assuntos internacionais, pela prática do crime de racismo ao fazer um gesto utilizado por movimentos ligados à ideia de supremacia branca durante sessão do Senado, no dia 24 de março.
A denúncia foi enviada nesta terça-feira à 12ª Vara de Justiça Federal, do Distrito Federal, e utilizou informações reveladas em inquérito conduzido pela Polícia Legislativa do Senado.
Martins responderá segundo a lei de crimes raciais por ter praticado e induzido a discriminação e o preconceito de raça e pode ser condenado à prisão, ao pagamento de multa mínima de 30.000 reais e à perda de cargo público.
O assessor de Bolsonaro estava sentado atrás do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, na sessão destinada a ouvir o então chanceler Ernesto Araújo, seu aliado. O gesto foi captado pelas câmeras da TV Senado e transmitido ao vivo.
“[Martins] efetuou, por duas vezes, com a mão direita, gesto de mão popularmente conhecido como sinal de “OK”- o referido gesto pode ser descrito como a união do polegar ao indicador e a extensão dos outros três dedos –, mas que nos últimos anos foi apropriado por grupos extremistas brancos, para identificar seus apoiadores e simbolizar a supremacia da raça branca sobre as demais”, diz a denúncia.
Os três procuradores que assinam a peça apontam que o gesto buscou reproduzir as letras “W” e “P”, em referência à expressão “White Power” (“Poder Branco”, em inglês).
Depois de ser repreendido pelo ato, Martins alegou que estava apenas ajeitando o seu terno, o que não convenceu os representantes do MPF. “No entanto, as imagens de vídeo captadas durante a sessão e analisadas detidamente no inquérito policial revelam que o gesto do denunciado foi realizado de forma completamente inusual e antinatural, e deixam evidente que não teve o intuito de ajustar a roupa”, diz a denúncia.
Uma perícia no vídeo que mostra o assessor fazendo os gestos indicou, ainda, que em ambas as ocasiões, ele manuseou o celular alguns segundos antes, aparentando trocar mensagens com alguém.
O símbolo feito por Martins é apontado como idêntico ao realizado pelo militante racista Brenton Tarrant, que assassinou 51 muçulmanos e tentou matar outros 40, em duas mesquitas na Nova Zelândia, em 2019. E também ao de pessoas que participaram da invasão ao Capitólio, nos Estados Unidos, no dia 6 de janeiro, em apoio ao então presidente Donald Trump — apoiado pelo assessor e por Bolsonaro.
O histórico do assessor, que é discípulo de Olavo de Carvalho, também foi considerado pela Procuradoria para imputar que houve intenção de divulgar o símbolo de supremacia racial. Uma série de postagens dele no Twitter foi anexada à denúncia, com referências a “a ideias, emblemas e símbolos relacionados a movimentos de extrema direita ou que demonstram ter uma visão messiânica em relação ao governo”.
“”A Bélgica é a Babel moderna, o epicentro do globalismo, o ninho de cosmopolitas que não possuem qualquer laço nacional; não chegando nem mesmo a ser um país. Eles nos derrotaram hoje, mas em breve escalaremos um Camisa 17 para acabar com tudo o que eles representam”, escreveu Martins, após a derrota da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2018, por exemplo.
Persona non grata no Senado, o bolsonarista já foi convocado a prestar depoimento na CPI da Pandemia, onde deverá ser questionado por senador na condição de denunciado — ou de réu.