Foto mostra soldados revistando crianças em intervenção no RJ?
Imagem feita pelo jornal 'O Globo' há 23 anos, durante outra operação do Exército no Rio, tem sido compartilhada como se fosse atual
A intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro é o tema de um boato que viralizou no Facebook nos últimos dias. Usuários da rede social têm compartilhado uma foto de soldados do Exército revistando crianças com uniformes escolares e mochilas às costas, tirada e publicada há 23 anos, como se a imagem tivesse sido registrada durante alguma ação nos últimos dias, depois que o presidente Michel Temer decretou a intervenção.
Veja abaixo uma das publicações no Facebook, compartilhada 38.146 vezes até o momento e comentada por cerca de 14.000 internautas na rede social:
A foto, na verdade, foi clicada pela fotógrafa Márcia Foletto, do jornal O Globo, em novembro de 1994, durante a Operação Rio I, que levou às ruas da capital fluminense cerca de 2.000 militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Registrada em uma das entradas do morro Dona Marta, em Botafogo, Zona Sul carioca, a imagem foi publicada na capa do jornal no dia 23 de novembro daquele ano, com a legenda “soldados revistam escolares num dos acessos ao Dona Marta, para descobrir se alguns deles estão sendo enganados e usados para transportar drogas”. Veja abaixo:
No dia seguinte à publicação do evidente caso de abuso, O Globo publicou a repercussão do caso no comando do Exército. Os generais Edson Alves Mey, comandante militar do Leste, e Câmara Senna, chefe da coordenadoria de combate ao crime organizado, disseram que iam investigar abusos na conduta dos militares, enquanto o general Gilberto Serra, chefe do Centro de Comunicação Social do Exército, defendeu que “todo mundo tem que ser revistado, porque ninguém tem a palavra ‘bandido’ escrita na testa”.
O jornal também encontrou e conversou com as crianças fotografadas. Iúri Edmar de Souza da Silva, então aos 9 anos, que já havia sido revistado seis dias antes, disse que estava ajudando a avó a vender cachorro-quente na praça. “Não acho certo. Nem me disseram por que estavam mexendo nas minhas coisas. Pior é que, se voltarem, vão fazer tudo de novo”, afirmou o garoto.
Wagner Inácio da Silva, aos 10 anos à época, relatou que “o cara veio por trás e enfiou a mão nos meus bolsos, não acho certo ficarem revistando as crianças. A gente não estava fazendo nada errado. Quando eu for soldado, não vou assustar as crianças”.
Já Carlos Alexandre Oliveira Fernandes, então aos 11 anos, disse ser “melhor ser revistado pelo Exército do que pela PM. Os policiais dão cascudos na gente”.
Ao Me Engana que Eu Posto, a fotógrafa Márcia Foletto disse que essa não é a primeira vez que a imagem de 1994 é compartilhada na internet como se fosse recente. “Essa foto já circulou nas redes sociais muitas vezes como se fosse atual. A primeira vez deve foi há uns oito anos, durante a ocupação do Exército na Maré, como se tivesse sido feita lá. Houve algumas outras vezes em que o Exército atuou no Rio e aconteceu a mesma coisa”, conta Márcia.
Portanto, embora retrate um procedimento inaceitável de militares durante uma operação contra o crime organizado no Rio, a foto foi publicada há 23 anos, e não durante a intervenção federal na segurança pública fluminense.
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