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O deputado-assessor de Bolsonaro para a cloroquina

Em Osmar Terra (MDB-RS), médico e deputado parecem conviver no conflito de uma dupla personalidade encoberta pela ambiguidade das conveniências políticas

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 jun 2021, 09h18 - Publicado em 5 jun 2021, 09h30

Osmar Terra é um deputado federal com uma curiosa biografia de cinco décadas na política: saiu da militância clandestina no Partido Comunista do Brasil (PCdoB) para as sombras do radicalismo conservador do governo Jair Bolsonaro.

Terra, 71 anos, médico de profissão e deputado pelo MDB gaúcho, é reconhecido dentro e fora do Palácio do Planalto como um dos principais influenciadores nas decisões que levaram o governo à perda de controle da pandemia.

Bolsonaro, por exemplo, o indicou como “assessor” a um grupo de médicos defensores da difusão do uso de derivados da cloroquina para “tratamento precoce” em massa da Covid-19.

Isso aconteceu numa reunião no palácio, na manhã da terça-feira 8 de setembro, e está registrado na coletânea de videos divulgada ontem pelos repórter Samuel Pancher e Raphael Veleda, do portal Metrópoles.

As digitais de Terra permeiam o negacionismo característico das ações governamentais desde o início da pandemia.

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A cronologia dos últimos 17 meses revela seu ativismo na propaganda da cloroquina dentro do gabinete presidencial desde fevereiro do ano passado, quando a pandemia ainda parecia distante da realidade brasileira.

Em março já se engajara numa conspirata palaciana, com auxílio do ex-deputado gaúcho Onyx Lorenzoni, que saía da Casa Civil, para derrubar o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

Levou a Bolsonaro — que aceitou — teorias sem comprovação científica sobre o vírus, como a do limite de sua propagação no clima tropical brasileiro. Se permitiu, também, difundir no centro do governo estranhas previsões sobre o ritmo e o rumo da crise pandêmica.

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Não se sabe como chegou à conclusão, por exemplo, de que o total de mortes na pandemia não ultrapassaria três mil — considerados os óbitos registrados até ontem (mais de 470 mil), Terra trabalhou com uma extraordinária margem de erro, superior a 15.566%.

Numa espécie de cruzada pública pela desinformação, acabou citado pela publicação Aos Fatos como o parlamentar que mais divulgou notícias falsas sobre a Covid-19 durante 2020.

A promoção de uma política pública para controle da pandemia baseada na distribuição de cloroquina, talvez, tenha sido o principal resultado do ativismo de Terra nas sombras do governo Bolsonaro.

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Em março do ano passado, o chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, mandou o Exército multiplicar sua produção. Era de 250 mil comprimidos de 150 mg por ano. Passou a um milhão por semana.

Até julho, somente o laboratório do Exército produziu o equivalente a uma década e meia do consumo nacional. Não se conhece o fluxo de distribuição, o estoque e seu destino.

O médico Terra resistiu — e persiste — às arguições sobre a falta de evidências científicas sobre a eficácia da cloroquina no “tratamento precoce” da Covid-19, coisa até agora não comprovada pela ciência.

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Passou o tempo esgrimindo com o argumento simplório, sem evidências, de uma conspiração global das corporações farmacêuticas contra um “remédio” secular e barato para a pandemia.

Mas agiu de forma oposta em relação a outro medicamento. Dias atrás, quando uma comissão da Câmara debatia projeto para regulamentar o uso medicinal da maconha, o deputado Terra questionou a “falta de evidências científicas” sobre medicamentos derivados da maconha.

“A oferta generalizada de uma droga é uma tragédia para qualquer país”— disse. Acrescentou: “Aumentar a produção, e muito, vai resultar numa oferta generalizada da droga. Desde quando é remédio um produto que causa dano às pessoas? Me mostrem uma só, só uma, evidência científica dos benefícios. Sou médico, trabalho com evidências. Não tem, não existe evidência científica. Estamos aqui trabalhando em cima de uma narrativa.”

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Terra exigiu dos remédios formulados a partir da maconha um atestado de evidências científicas que ele, curiosamente, descartou para ajudar Bolsonaro a legitimar a política de distribuição de cloroquina contra a Covid-19. Talvez possa esclarecer os motivos, se comparecer para depor na CPI da Pandemia como está previsto.

O médico e o deputado parecem conviver no permanente conflito de uma dupla personalidade encoberta pela ambiguidade das conveniências políticas.

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