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Vice-presidente da BYD: ‘Brasil vai exportar carros elétricos e tecnologia verde’

Uma das principais montadoras de veículos elétricos do planeta pretende fazer do Brasil uma potência do setor

Por Ernesto Neves e Sara Salbert
Atualizado em 24 jul 2024, 18h09 - Publicado em 24 jul 2024, 12h30

Ex-deputado federal (PP-GO) e ex-ministro das Cidades durante o governo de Michel Temer, Alexandre Baldy assumiu, em julho, o cargo de vice-presidente sênior da montadora chinesa BYD no Brasil.

Baldy tem a missão de impulsionar as vendas da empresa, conduzindo também sua visão estratégica e as iniciativas de inovação.

Em conversa com VEJA, o CEO afirma que a BYD fará do Brasil um centro de produção de veículos elétricos ultramodernos, capaz de abastecer os mercados vizinhos da América Latina.

Um dos pontos cruciais do projeto é a antiga fábrica da Ford na Bahia, alvo de investimentos da ordem de 5 bilhões de reais para converter numa montadora de veículos com zero emissão de carbono.

Em parceria com os chineses, o país, nas palavras de Baldy, será capaz de produzir tecnologia por meio dos centros de pesquisa que a empresa pretende instalar por aqui, incluindo o que já está em construção, em Salvador. Confira abaixo os principais trechos da conversa. 

A BYD lançou em fevereiro o carro elétrico Dolphin Mini. A expectativa do mercado era de que o modelo custasse menos de R$ 100 mil, mas o valor oficial anunciado pela marca ficou um pouco acima disso: a partir de R$ 115,8 mil. Como estão as vendas e por que isso aconteceu? Existe previsão de preços mais próximos de 100 mil no futuro?

Essa previsão de preço nunca foi mencionada. Ela nunca foi algo oficial, sempre foi uma mensuração feita fora da companhia. O preço do valor do carro só foi divulgado de fato no momento do lançamento. Se você imaginar que um carro como Dolphin Mini, com todas as suas características e todos seus acessórios que são encontrados em modelos de carros bem superiores, ele veio em um preço extremamente acessível por tudo que o carro entrega. As vendas têm sido muito boas. Mesmo na largada, na minha avaliação as vendas foram muito bem-sucedidas. Nós vendemos 7.635 carros, tivemos sucesso na introdução dele no Brasil. Então a avaliação é que ele foi bastante positivo e fez muito sucesso. Considere que ele é hoje um dos modelos mais vendidos no país entre todas as versões.

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Em que estágio estão as obras do projeto industrial de Camaçari? O plano ainda é produzir já em 2024?

Eu estou aqui neste momento, e as obras estão bem avançadas e evoluindo bem rápido. O objetivo continua firme quando falamos sobre a montagem para o final de 2024.

Quais são os modelos que serão produzidos e as faixas de preço?

Na verdade isso depende muito do sucesso de cada um dos modelos. São muitos os modelos que vão sendo lançados e tendo sucesso no mercado e o que baliza é essa apreciação e o acolhimento por parte do consumidor. Então, os modelos que tiverem mais aceitação por parte dos consumidores serão os que a companhia certamente decidirá produzir aqui no Brasil.

A ideia é que o país seja o “hub” da marca na América Latina e Central. Quando isso deve acontecer? 

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Já na largada da indústria, porque a fábrica vai ter uma importância regional muito grande. O Brasil tem acordos bilaterais com vários países, e a gente pode entrar no Mercosul produzindo aqui no Brasil, em Camaçari. Poderemos também fazer exportações para o México. Então ela será o hub da América Latina como um todo, produzindo a partir da Bahia para toda a região.

Como está o cronograma de concessionárias?

Quase toda semana nós inauguramos uma concessionária. Nesta semana, por exemplo, serão três concessionárias inauguradas: ontem nós inauguramos uma aqui em Salvador, na quarta-feira inauguramos a Riozen, no Rio de Janeiro, e na quinta-feira inauguramos outra aqui em Salvador. Hoje nós temos quase 110 concessionárias abertas e o nosso objetivo é chegar a 200 até o fim do ano. Nós temos um plano de 47 já em construção e quase 50 em processo de aprovação de projeto para iniciar as obras. Então é um cronograma bem forte e expressivo para que, quando a fábrica estiver em operação, nós já tenhamos esse processo de distribuição de concessionárias totalmente aberto e implantado no Brasil.

Quais são os planos da montadora até dezembro e para 2025? 

Os planos da BYD para o Brasil em 2024 são conseguir investir na planta industrial, para que ela possa iniciar o processo de montagem ainda neste ano, e concluir o ano de 2024 com 200 concessionárias abertas no Brasil. Em cada concessionária, a gente cria em torno de 60 empregos, então vão ser mais de 12 mil brasileiros trabalhando nas nossas concessionárias BYD em todo o Brasil. Além de conseguirmos estar entre os dez players em termos de venda no Brasil. Hoje nós já estamos em 10º lugar e nosso objetivo é continuar crescendo.

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Concessionária da BYD recém-inaugurada em Florianópolis
Concessionária da BYD recém-inaugurada em Florianópolis (Divulgação/Divulgação)

Como será o centro de pesquisa e desenvolvimento, em Salvador? Quando deve começar a operar? 

No dia 12 de julho teremos o lançamento dessa relação com o Senai CIMATEC na sede da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), que será o início dos investimentos tecnológicos para o centro de desenvolvimento e pesquisa que nós realizaremos no Brasil. São muitos os projetos que serão desenvolvidos localmente e um dos mais aguardados é o nosso carro híbrido plug-in flex.

A BYD, quando chegou ao Brasil, afirmou que iria abrir três fábricas. Como estão os projetos?

Hoje nós temos duas fábricas em operação em Campinas. A primeira produz chassis para ônibus elétricos, que graças ao projeto do governo federal é um segmento que está sendo impulsionado, e a segunda produz painéis solares, que também temos a perspectiva de que possam voltar a crescer enquanto o governo federal retoma a implementação do imposto de importação, que é importante para que a gente tenha competitividade na fabricação local. Por último temos a nossa unidade industrial de Camaçari, que tem o propósito de começar no mês de dezembro de 2024.

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O consumidor brasileiro tem alguma particularidade em relação aos carros elétricos? Isso já influencia a estratégia da empresa?

O consumidor brasileiro tem muita abertura para a tecnologia e para inovação. Dado o sucesso da primeira fase de implantação da BYD no Brasil, os consumidores têm demonstrado completo interesse pelo comprometimento com o meio ambiente, algo que tem tomado a consciência de todos no país. Depois que o Rio Grande do Sul viveu o maior desastre ambiental do nosso país, as pessoas ganharam mais consciência sobre o que elas podem consumir, ao mesmo tempo que se comprometem com a proteção do meio ambiente. Buscando sempre essas informações, percebemos que hoje quase 70% dos consumidores que avaliam comprar um carro zero buscam elucidar a sua curiosidade sobre os carros elétricos. Mais de 92% hoje já avaliam e negociam um carro híbrido quando vão adquirir um carro zero-quilômetro. Então é muito claro que o brasileiro está completamente aberto a essa tecnologia e buscando alinhar a tecnologia e o meio ambiente. 

Os consumidores têm muitas dúvidas sobre a vida útil das baterias, o custo para repor peças e a desvalorização dos carros elétricos. Como essas questões serão trabalhadas? 

Tudo que é novo gera muita dúvida e muita curiosidade. Há 12 meses nós lançamos o carro BYD Dolphin, que revolucionou o mercado de carros elétricos e trouxe a democratização para que o brasileiro tivesse oportunidade de comprar um carro elétrico novo. O carro elétrico era conhecido na mente popular como um carro para pessoas ricas, mas a BYD criou outra percepção desde que veio para o Brasil e trouxe o BYD Dolphin, o BYD Dolphin Mini e o BYD Seal por preços extremamente acessíveis para suas categorias. A BYD também lançou um programa de avaliação do seu carro seminovo, então, aqueles que desejam trocar seu BYD SONG PLUS por um modelo BYD pagam 90% do valor na tabela Fipe. É uma política comercial que vislumbra a confiança e, sobretudo, a avaliação de que o valor residual dos carros é motivo de muito cuidado para que haja fidelização à marca.

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços recomendou a tributação dos carros 100% elétricos com o Imposto Seletivo no âmbito da reforma tributária. Pela proposta original do Ministério da Fazenda, só os veículos movidos a combustão e os híbridos seriam passíveis de taxação – os elétricos ficariam de fora. O que a BYD acha disso?

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Esse diálogo tem sido uma constante com o Congresso para que nós possamos demonstrar avaliação na construção do que o Imposto Seletivo será motivo de recolhimento. Se avaliação é proteção ao meio ambiente e dano à saúde humana, nós temos a comprovação de que o carro elétrico deverá ser excluído do recolhimento pelo Imposto Seletivo. Então esse é o principal motivo dos diálogos que temos mantido com o Congresso. O legislador, o consumidor e todos que estão envolvidos no tema têm muitas dúvidas, então é importante que eles tirem essas dúvidas, para que as pessoas tenham condição de entender e de fato decidir o que é e o que não é maléfico para a saúde humana e o meio ambiente.

A Anfavea afirma que as importações da China estão tirando espaço dos fabricantes nacionais, que geram empregos aqui. O que a BYD acha disso?

O que a BYD tem importado é para dar sustentação à abertura da nossa rede de concessionárias. Nós compramos a antiga fábrica da Ford por quase 300 milhões de reais de investimentos e são quase 5 bilhões e 500 milhões de reais de investimento para construção dessa nova fábrica, e precisamos de uma rede de distribuição ou uma rede de concessionárias para que a fábrica funcione. Então é fundamental que possamos produzir nacionalmente para fazermos essa transição.

Nós discordamos totalmente desse posicionamento, porque cada concessionária aberta gera 60 empregos. Quando a fábrica começar a funcionar em dezembro e ao longo de 2025 com a produção completa vamos gerar mais de 10 mil empregos diretos, além dos indiretos. A BYD promove uma política comercial em que as importações são necessárias para que tenhamos uma fábrica que vem recebendo bilhões de um investidor estrangeiro que acredita firmemente no Brasil.

As montadoras também afirmam que a China dá subsídios à BYD, o que configura concorrência desleal…

Essa acusação é completamente infundada. A Europa mesmo abriu uma investigação e, se observarmos a tributação que foi inserida na comunidade europeia, podemos ver que a BYD foi a menos impactada. Ou seja, ela conseguiu o menor nível tributário nesse retorno do imposto de importação. A BYD colaborou em todos os aspectos da investigação e esclareceu todas as dúvidas, mostrando que essas são informações falsas e extremamente criativas.

A BYD promete criar aqui a primeira unidade de produção de baterias para carros fora da Ásia. Quando ela deve ficar pronta?

Nosso objetivo é ter essa unidade industrial em 2025. Um investimento como esse é muito expressivo e marcante para o Brasil porque é uma revolução tecnológica e uma oportunidade para o campo da inovação e da tecnologia como poucas vezes acontece. O mercado de carros elétricos e híbridos cresce fortemente em todos os continentes e se o Brasil tem a oportunidade de poder receber o investimento em uma planta industrial para produzir baterias é muito estratégico que o país apoie essa iniciativa, porque nós estaremos no centro global dessa transição tecnológica. 

A empresa fez parceria com a Raízen para instalar 600 pontos de recarga. Há outras parcerias em andamento?

São dezenas de parceiros. Hoje são mais de 50 empresas diferentes que nós temos relação comercial e patrocinamos para que sejam implementados sistemas de carregamento pelas cidades e pelas rodovias. Nós temos hoje mais de 1.000 projetos em andamento para implantação de infraestrutura de carregamento.

Apesar dos carros elétricos não queimarem combustíveis fósseis e por isso não emitirem gases poluentes, devemos considerar também as emissões indiretas causadas pelo processo de produção do veículo e carregamento da bateria. A BYD tem planos para reduzir essas emissões indiretas?

A BYD tem comprometimento com o meio ambiente, tanto que a sua frase mestra globalmente é reduzir a temperatura do planeta Terra em até 1°C. Tudo que ela produz, trabalha e consome direta e indiretamente ela busca as fontes limpas como matrizes de eletricidade. A BYD transformou os navios que adquiriu em embarcações com uso de gás natural justamente para que possamos transportar e ter a nossa logística global comprometida com o meio ambiente. Somos um dos maiores fabricantes mundiais de painéis solares e majoritariamente o uso das nossas fontes de energia são de fontes limpas. No Brasil, temos a oportunidade de poder ter uma geração de energia completamente limpa, com a extração de minerais como o lítio. Temos uma capacidade instalada mais do que suficiente para poder até dobrar de força as energias limpas, o que dá ao país a oportunidade de ter uma matriz limpa do berço ao túmulo nessa transição tecnológica. Nós teremos uma fonte de energia limpa para fabricação de baterias aqui no Brasil e temos construído um sistema para utilizar fontes limpas em toda a cadeia de produção. Seremos um grande símbolo global da transição energética como um exemplo para o mundo de um país que tem as suas fontes limpas e renováveis de produção de eletricidade e está na transição para uma tecnologia automobilística completamente convergente com toda a sua etapa em respeito e comprometimento ao meio ambiente.

A BYD pretende investir na exploração do lítio no Brasil? Como estão as negociações e quando isso pode começar?

Isso pode começar a qualquer momento porque essas negociações gradativas sobre essa extração são recorrentes. A América do Sul, incluindo Brasil, Chile, Argentina e Bolívia, detém minas de lítio abundantes que seriam capazes de atender ao mercado por dezenas de anos. A BYD já é um exemplo em outras cadeias industriais de verticalização no mundo automobilístico. O BYD Seal, por exemplo, tem verticalizado quase 75% dos seus componentes para que a gente tenha uniformidade de fornecimento de várias espécies de componentes e consiga ter a melhor competitividade para oferecer ao nosso cliente o custo mais acessível.

As reclamações de clientes da BYD relacionadas ao atendimento da empresa e à demora na entrega das peças aumentaram consideravelmente desde o ano passado no Brasil. O que a BYD está fazendo para reverter essa situação?

A BYD cresceu muito rapidamente e tem na sua forma de trabalhar a busca constante pela fidelização e pelo atendimento primoroso com o nosso consumidor. Investimos em um centro de distribuição no Espírito Santo e importamos todas as partes e peças necessárias para atender um volume mais do que o suficiente para que não haja falta e espera por parte dos nossos clientes. Trabalhamos em um processo de otimização de logística para que possamos ter um prazo mínimo de poucos dias no envio de partes e peças à rede de concessionárias, dando o melhor atendimento aos nossos clientes.

Em relação aos pontos de recarga, qual é a estimativa para o Brasil até 2025?

Nós entregamos um carregador para o consumidor levar para sua casa a cada carro que vendemos, então estimulamos gratuitamente as pessoas a terem essa mudança de cultura e hábito carregando o seu carro da sua própria casa. Para além dessa implantação, nós estamos investindo com a Raízen Power nesses 600 pontos de recarga em todo o Brasil e com muitas outras startups e empresas, com mais de 50 empresas hoje com relação direta conosco. É uma crescente, porque assim que entregamos um ponto de carregamento iniciamos as discussões para a criação do próximo. Nosso desejo é conseguir atingir um número de carregadores disponíveis nas redes públicas urbana e rodoviária semelhante ao que existe na China em pelo menos até 5 anos para que possamos dar a sensação de tranquilidade e segurança ao nosso consumidor, que poderá fazer a escolha entre o carro elétrico e o híbrido. Essa tecnologia faz com que as pessoas promovam ganhos ao meio ambiente e também economizem dinheiro com combustível. Aqui nós temos um carro com o dobro da potência em comparação com o sedan, mas com 50% a mais de autonomia. Entregamos uma eficiência energética, um compromisso com o meio ambiente e dinheiro no bolso do consumidor quando ele vai dirigir pelas ruas ou pelas rodovias.

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