A economia dos oceanos, que abrange atividades que vão de pesca e navegação a turismo e biotecnologia marinha, deve alcançar um valor estimado em US$ 3 trilhões, de acordo com uma estimativa feita, antes da pandemia, pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, uma organização econômica intergovernamental sediada na França. A quantia representa o dobro do valor estimado em 2010, quando alcançava US$ 1,5 trilhão.
Apesar do rápido crescimento econômico, pesquisadores da Universidade British Columbia, no Canadá, apontaram as principais barreiras para o desenvolvimento sustentável do setor. Segundo o relatório divulgado no último dia 8 de junho, Dia Mundial dos Oceanos, será preciso um esforço como o do Acordo de Paris para que os investimentos na área sejam alinhados com a saúde dos mares.
“Uma economia dos oceanos sustentável requer ecossistemas marinhos saudáveis e resilientes, os quais estão sendo severamente ameaçados por pressões antropogênicas e climáticas”, apontou o primeiro autor do estudo, Rashid Sumaila, professor do Instituto de Oceanos e Pescarias da Universidade British Columbia. “Existem muitas oportunidades para governos, instituições financeiras e outros participantes obterem ganhos financeiros neste tipo de economia sustentável — mas também existem muitas barreiras que precisam ser superadas.”
Os pesquisadores identificaram quatro principais barreiras a serem levadas em consideração: a fragilidade do setor em atrair investimentos sustentáveis; a insuficiência dos investimentos públicos e privados; a capacidade limitada dos atores em desenvolver projetos financeiramente atraentes; e o alto risco dos investimentos no setor.
Para a bióloga Janaína Bumbeer, especialista em conservação da biodiversidade da Fundação Grupo Boticário, é preciso acabar com a falsa dicotomia que contrapõe desenvolvimento econômico e proteção ambiental. “A economia verde já está muito bem estabelecida, mas a economia azul é algo que ainda está sendo internalizada, porque o oceano parece mais distante de grande parte da população”, disse.
Bumbeer citou o estudo “Soluções oceânicas que beneficiam as pessoas, a natureza e a economia” (Ocean Solutions That Benefit People, Nature and the Economy, em inglês), elaborado com o apoio do instituto de pesquisa WRI, que mostra a viabilidade dos investimentos sustentáveis na área. De acordo com o documento, o investimento de US$ 2,8 trilhões em iniciativas como descarbonização dos transportes marítimos e conservação e restauração dos manguezais podem render benefícios de US$ 15,5 trilhões até 2050.
“É possível fazer uma transição para uma economia azul, mas isso, de fato, exige muito esforço e planejamento, bem como um realinhamento dos incentivos e reformas profundas”, afirmou Bumbeer. Para isso, a tecnologia e o compartilhamento de informações sem fronteiras são fatores essenciais.
De acordo com a bióloga, é preciso ainda mudar a forma como contabilizamos o valor do oceano, considerando sua importância em mitigar as alterações climáticas e em balancear os ecossistemas, condições fundamentais para o desenvolvimento econômico. “Quando a gente entender que o oceano contribui para a economia, não só através do PIB, mas também de uma forma mais holística, vamos entender melhor o seu valor, o que refletirá nos investimentos e no seu uso sustentável”, disse.