Normalmente previsíveis e marcadas por temas da rotina corporativa, as reuniões do conselho de administração da petroleira americana ExxonMobil tornaram-se nos últimos meses cenário de uma batalha. Um pequeno fundo de investimento chamado Engine No. 1 conseguiu, nas reuniões das últimas semanas, emplacar três representantes no colegiado com um objetivo explícito: mudar a estratégia da companhia que, entre 2006 e 2011, foi a mais valiosa do mundo. Para surpresa dos executivos que comandam a petrolífera, os conselheiros-ativistas do Engine No. 1, até então ilustres desconhecidos, conseguiram rapidamente o apoio dos representantes de colossos das finanças como os fundos BlackRock, Vanguard e State Street. Coeso, o bloco forçou os líderes da Exxon a adotar uma estratégia radical de redução da pegada de carbono da petroleira, em um ritmo muito mais rápido do que o planejado. Aos derrotados, coube acatar a decisão — que, diga-se, rendeu resultados animadores e maiores que de seus concorrentes, com a valorização das ações da empresa em 45% desde dezembro.
Do grupo vencedor na batalha da Exxon, o colosso BlackRock, administrado pelo financista Laurence Fink, é o mais poderoso e emblemático representante dos novos ventos que sopram em Wall Street, a meca das finanças, em Nova York. Com uma carteira de investimentos de 9 trilhões de dólares sob sua administração, sinaliza ao mercado que empresas que não respeitarem princípios ambientais e de boa governança corporativa passarão a ser excluídas de seu portfólio de investimentos. É um movimento que segue a passos firmes nos Estados Unidos depois de ter se consolidado na Europa. Estima-se que o montante gerido por fundos dedicados a aplicar apenas em negócios sustentáveis chegue a 30 trilhões de dólares mundo afora. Metade disso é dinheiro europeu, enquanto outros 7,5 trilhões têm origem em território americano.
No Brasil, apesar de ainda serem a uma fração do total, o interesse por investimentos sustentáveis está crescendo vertiginosamente. Em janeiro de 2020, o patrimônio líquido acumulado por esses fundos era de 1,42 bilhão de reais e, em maio de 2021, bateu em 2,48 bilhões de reais, um crescimento de 74%. Mas há desafios para que esse mercado ganhe robustez e relevância — hoje significa menos de 1% do total investido. “Carecemos de um mapeamento adequado do mercado no Brasil. Exibir a nomenclatura da sustentabilidade por aqui não significa necessariamente adotar critérios reconhecidos”, avalia Carlos Takahashi, presidente executivo da BlackRock Brasil e diretor da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Para superar essa deficiência, o mercado começa a criar um arcabouço próprio para certificar tais investimentos e evitar o que se chama de greenwashing — uma espécie de maquiagem politicamente correta que não corresponde à realidade. “Recomendamos que 67% de um fundo com definição sustentável seja destinado a projetos socioambientais e o restante não pertença a ativos prejudiciais”, diz Nataly Briquet, da consultoria EY e do Laboratório de Inovação Financeira, que aconselha a CVM no tema. À parte as dificuldades de certificação, o país tem um potencial promissor a ser explorado. Assim como aconteceu com os acionistas da Exxon e de centenas de grandes empresas, a ideia de que o futuro é verde também se torna praticamente inquestionável por aqui.
Publicado em VEJA de 16 de junho de 2021, edição nº 2742