O grito pelo mundo: os efeitos colaterais do aquecimento global
Se não for interrompida pelos países mais poluidores, a tendência terá consequências ainda mais terríveis para a humanidade
A imagem da idosa em meio a um incêndio florestal na Grécia evoca O Grito, obra seminal do expressionista norueguês Edvard Munch. Com algumas diferenças entre a fotografia e a tela, o registro mostra o desespero da mulher diante da iminente destruição de sua casa no vilarejo de Gouves, na Ilha de Evia, em um domingo quente, 8 de agosto. Naquele dia, ela e milhares de residentes foram evacuados de barco do local para evitar uma tragédia maior.
O incêndio na Grécia, como muitos outros ao redor do planeta, é resultado dos efeitos colaterais do aquecimento global. Uma tendência que, se não for interrompida pelos países mais poluidores, entre os quais China, Estados Unidos, Índia, Rússia e Japão, terá consequências ainda mais terríveis para a humanidade. O desafio será limitar o aquecimento a 1,5 grau Celsius, conforme definição do Pacto de Glasgow, referendado na cúpula ambiental COP26.
No Brasil, o foco das preocupações é a chamada Amazônia Legal Brasileira. Estudos recentes mostram que, com a alta de quase 22% nos desmatamentos da área, a imensa floresta passou a emitir mais dióxido de carbono do que tem capacidade de absorver. A região outrora reconhecida como “pulmão do planeta”, por sua grande capacidade de absorção das emissões que alimentavam a crise climática, agora está causando sua aceleração. O negacionismo ambiental tem sido um obstáculo. Especialistas afirmam que o Brasil já conhece estratégias eficientes de descarbonização e reúne boas condições para utilizá-las. O Plano Nacional de Prevenção e Controle do Desmatamento, a criação de áreas protegidas e o investimento em biocombustíveis foram algumas delas. Outras precisam ser criadas para a situação que se impõe.
O documento resultante da 26ª conferência da ONU sobre o clima prevê, entre outros pontos, a diminuição do uso de combustíveis fósseis, a mitigação de catástrofes causadas pela crise ambiental, a revisão dos planos de redução de emissões de gases e a repaginação do sistema de créditos de carbono. Com isso, espera-se que as emissões humanas futuras não excedam 450 bilhões de toneladas — é quase o total de uma década nas taxas anuais atuais. Temos pressa.
Publicado em VEJA de 29 de dezembro de 2021, edição nº 2770